Título: Itamaraty e Garcia negam cooperação com guerrilha
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 01/08/2008, Internacional, p. A21

Enquanto o chanceler colombiano Jaime Bermudez declarava que "cabe agora à Brasília determinar as eventuais providências a serem tomadas", o assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, respondia por meio de sua assessoria que a reportagem da revista colombiana Cambio é "fantasiosa".

¿ Não há nenhuma cooperação do governo brasileiro com as Farc, nenhuma. Basta ler os documentos para ter isso claro ¿ disse Garcia. ¿ Isso parece provocação, não há cooperação. É questão de perguntar ao presidente Uribe e tirar a versão.

Segundo a assessoria de Marco Aurélio, nos mesmos e-mails que pautam a reportagem colombiana, ele é citado como "o inefável Marco Aurélio", sempre tido como homem que impede o contato das Farc com o governo brasileiro.

O Itamaraty também negou qualquer vínculo do chanceler Celso Amorim com as Farc ao dizer que "nunca houve contato direto ou indireto do ministro Celso Amorim com qualquer membro ou representante das Farc".

Conclusões divergentes

Ao menos dois jornais brasileiros publicaram, no início de julho, matérias sobre relações entre o Palácio do Planalto e as Farc baseadas nos mesmos arquivos a que a revista colombiana teve acesso. As conclusões, entretanto, são diferentes.

Reportagem veiculada na Folha de S. Paulo dia 5 fala sobre as "dificuldades" que a guerrilha teria encontrado para chegar à cúpula do poder no Brasil e cita especificamente um email no qual Raúl Reyes trata Garcia como um empecilho às Farc. Tal mensagem não é mencionada na matéria. O que, na avaliação de assessores do Planalto, seria indício de interesses políticos por trás da matéria publicada na revista, pertencente ao grupo El Tiempo de mídia, cuja família proprietária se estende ao ministro da Defesa colombiano, Juan Manuel Santos.

Fonte citada na reportagem, Santos foi subdiretor do jornal antes de entrar no governo, na gestão do presidente Andrés Pastrana. Seu irmão, Francisco Santos Calderón, também ocupou a subdiretoria antes de candidatar-se à vice-presidência de Álvaro Uribe. Crítico do Conselho Sul-Americano de Defesa ¿ órgão da recém-criada União das Nações Sul-Americanas ¿ Santos teria influência sobre o conselho editorial da revista, dizem assessores.