Título: Brasil-EUA: Parcerias ampliadas
Autor: Garneiro, Mario
Fonte: Jornal do Brasil, 31/07/2008, Economia, p. A19

Mario Garneiro

EMPRESÁRIO

Se os presidentes Bush e Lula não tivessem tido tão boas relações pessoais, iniciadas no dia após a posse do presidente brasileiro, ambos os países teriam tido maiores dificuldades não só no relacionamento entre si mesmos como também para atravessar um período acentuado de mutações políticas e ideológicas no continente.

De todos os altos e baixos a posição brasileira foi de harmonização de conflitos, de manutenção dos diálogos e viu coroada uma estratégia de liderar sem imposições, de guiar sem pretensões de hegemonia e de ser sempre o algodão entre cristais nas Américas.

Entramos agora em um período de pré-mudança de guarda na Casa Branca. Penso que qualquer dentre os candidatos, Obama ou McCain, que eleito for terá de voltar-se ainda mais para um continente que é auto-suficiente e celeiro do planeta e grande ator no mundo da energia, não só a tradicional mas também e em especial, a renovável.

Um paralelo feito oito anos após o presidente Bush ter assumido, o Brasil passou por uma cirurgia plástica que iniciada no governo de FHC foi com todos os méritos aprofundada e cristalizada com Lula.

Eis alguns números interessantes: em tamanhos de economia, o Brasil em 2000 produzia US$ 1,09 trilhão e no final deste ano US$ 1,82 trilhão. Os USA devem fechar o ano em US$ 14 trilhões. Em 2000 eram US$ 11,5 trilhões.

A dívida externa brasileira de US$ 190 bilhões em 2000, neste período transformou-se em crédito externo de cerca de US$ 10 bilhões, e a dívida interna reduzida de 57% do PIB para 38% este ano. A inflação deste ano ficou em torno de 5,6% contra em 2000, com 9,81% no ano.

Estoques de petróleo no Brasil saíram de 7,367 bilhões para mais de 80 bilhões neste ano. As exportações de US$ 50 bilhões passaram para US$ 190 bilhões e o déficit da balança comercial, de US$ 697 milhões, em 2000, registrou saldo de US$ 30 bilhões em 2008.

Finalmente o dólar a R$ 1,97 e hoje a moeda em R$ 1,57. Creio que estes resultados mostrem a solidez da economia brasileira, erradicada de vez a inflação.

De fato, os indicadores econômicos mostram a curva ascendente que coloca o nosso país como a sétima economia mundial e traduz-se pelo que diz o suplemento do Financial Times : o nosso país está no limiar de alcançar o status de grande potência.

Com gargalos em legislações atrasadas e de antes do fim da guerra mundial e com infra-estrutura muito deficiente, mas com uma crescente acumulação de capital interno, ajudado por US$ 40 bilhões de investimentos diretos, o Brasil tem todas condições de em 10 anos estar pari-passu com os países mais desenvolvidos na ocupação consciente e sustentável do território. Mas seremos um país que em 5 anos estará exportando 300 bilhões de dólares.

Tudo isto para dizer que a chamada crise americana teve e tem

características específicas e que não caracterizava uma recessão, mas antes uma retração forte e continuada a ser superada depois de um período mais ou menos largo de ajustes. Veremos ainda mais dois anos de dificuldades no início do mandato do novo presidente norte-americano.

Com efeito, no início deste ano, havia um certo sentimento de pânico de parte de economistas, investidores do mercado financeiro, empresários e políticos, com relação à possibilidade de uma recessão profunda nos EUA.

Oportunidade

Com Marcelle Chauvet éramos dos poucos que mantinham uma posição mais serena. Ao analisar o modelo estatístico que ela desenvolveu, o qual gera, em tempo real, probabilidades de recessão na economia americana, a indicação era de uma desaceleração econômica, mas não de uma recessão severa. Após atingir um pico no primeiro trimestre, as probabilidades de recessão nos EUA estão decrescendo.

O momento é ainda delicado. Diversas vezes na história dos EUA desacelerações econômicas foram seguidas, meses depois, de uma recessão. A economia americana está enfraquecida. Entretanto, o Federal Reserve tem atuado de forma eficiente para restabelecer o equilíbrio e a credibilidade do sistema financeiro. Se não houver pressões inflacionárias demasiadas para que haja uma elevação precipitada da taxa de juros, a economia americana poderá evitar uma recessão de fato nos próximos meses.

O Brasil poderá beneficiar-se desta enfermidade passageira ampliando a força na agricultura e na área energética tradicional, com novas reservas de petróleo que podem passar de 80 bilhões de barris.

Desejo realçar que desde o primeiro veículo a álcool produzido em série em 1980, o Brasil ascendeu à nova posição proeminente entre os maiores produtores mundiais de etanol produzido fora da cadeia alimentar.

O esforço feito pelo presidente Lula, o qual apoio integralmente, visa a transformar o etanol em commodity e eliminar os preconceitos que se elevam maldosamente contra a produção de etanol e biodiesel em nosso país, e que, certamente têm conotações mais profundas do que aquelas que são hoje invocadas. Temos de duramente enfrentar este desafio e ampliar a produção.

Lembro que os Estados Unidos e o Brasil agora são dois pesos-pesados mundiais na geopolítica, na economia e no desenvolvimento social e ambiental em busca de uma parceria mais equilibrada e dinâmica.