Título: A outra face da corrida municipal
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 03/08/2008, Tema do Dia, p. A2

Especialistas estimam que cidade terá uma injeção de pelo menos R$ 60 milhões. Em todo o Brasil, conta deve chegar a cerca de R$ 1,81 bilhão

Cláudia Dantas

Muito mais que exercer o poder cívico por meio do voto, as eleições respondem por considerável incremento na economia do país e chegam a movimentar uma gigantesca indústria por trás, como agências de publicidade, profissionais de mídia, institutos de pesquisa, gráficas, luz e som, locação de veículos, e até empregos temporários. De acordo com especialistas, a última eleição ­ para deputados, senador e governador ­ representou incremento de R$ 54,3 milhões só no Rio. Até outubro, a estimativa é de que R$ 1,81 bilhão seja injetado na economia dos 5.564 municípios brasileiros. Só a indústria gráfica, este ano, deve faturar R$ 44 milhões aqui. Juntando o oficial ao informal, a expectativa é de que pelo menos R$ 60 milhões passem a circular no Rio. Paulo Bahia, cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda que a eleição desencadeia uma rede produtiva capaz de mobilizar empregos temporários e de fortalecer o orçamento das empresas. ­ A dinâmica dos setores de serviços e da indústria de mídia aumenta bastante no período ­ resume. Mas o exercício da liberdade de expressão, segundo Bahia, não pode ultrapassar os limites da consciência democrática e a nova legislação, imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi crucial para controlar os arroubos de criatividade e o poder de persuasão dos candidatos. ­ A liberdade de expressão é fundamental para garantir um Estado democrático, entretanto, eleitores precisam estar atentos às propagandas enganosas ­ adverte Bahia. Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), Marcelo Néri, a democracia brasileira está amadurecendo e a população aprende a votar. ­ Votar é um exercício que se aprimora com o tempo ­ ensina Néri. ­ O truque da cesta básica já está ultrapassado. Foi substituído pelo cartão-bonificação, um método menos oportunista porque a assistência permanece depois das eleições. Com as novas regras, os candidatos precisaram criar estratégias de campanha mais criativas e comedidas. Estas determinações restringiram um pouco a atuação dos políticos, que hoje não podem, por exemplo, espalhar outdoors nem afixar cartazes em locais públicos. Aumentou a cobrança e a fiscalização. Candidatos, agora, precisam abrir empresa. Todo o material gráfico deve incluir CNPJ ou CPF dos candidatos e dos responsáveis pela confecção do produto. Além disso, o TSE exige que os panfletos informem a tiragem. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Alfried Plöger, acredita que os gastos de campanha serão mais comedidos. Em uma estimativa mais otimista, Plöger aposta em um incremento de até R$ 400 milhões para a indústria gráfica brasileira no período. O Rio, segundo o presidente, deve responder por 11% desse montante. ­ Nas eleições passadas, os candidatos podiam inventar de tudo. Eu já vi candidato distribuir santinhos de avião ­ relembra. A lei que obriga a manter a cidade limpa também induziu os políticos a conter gastos. ­ Antes, porém, era fácil encontrar pelas ruas banners, outdoors, santinhos, panfletos, além da distribuição descontrolada de lapiseiras, canetas, camisetas, agendas, blocos. Todo e qualquer tipo de brinde ­ destaca Plöger. O presidente da Abigraf ainda salienta as manobras efetuadas por candidatos e empresas a fim de driblar os relatórios a serem apresentados ao TSE, no fim da campanha. ­ Muitas vezes, o candidato chega com o trabalho e a gráfica não cobra pelo serviço. Por isso é muito difícil contabilizar este aumento ­ diz.

Os custos da campanha

Nos orçamentos de campanha entregues ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), os candidatos a prefeito não economizaram nas contas. O objetivo, segundo eles, é divulgar uma expectativa maior da que será gasta oficialmente para não ter problemas na prestação de contas com o TRE, em outubro. A estimativa mais alta é a de Eduardo Paes (PMDB), que estipulou um orçamento de R$ 12 milhões. O petista Alessandro Molon prevê gastos de até R$ 8 milhões contra os R$ 6 milhões declarados por Jandira Feghali (PCdoB). Já Gabeira (PV) estima investir R$ 7 milhões, bem próximo de Marcelo Crivella, do PRB, cujo teto está em R$ 6,8 milhões. A democrata Solange Amaral, declarou R$ 6,5 milhões de orçamento contra R$ 3 milhões do candidato do PDT, Paulo Ramos. Chico Alencar (PSOL-PSTU), no entanto, é o candidato com o orçamento mais baixo: R$ 400 mil.