Título: Oposição investe nas demandas regionais
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 11/08/2008, País, p. A11

DEM e PSDB priorizam as realidades macroeconômicas

Márcio Falcão

BRASÍLIA

O desenrolar das campanhas eleitorais tem revelado que governo e oposição traçaram estratégias bem diferentes para conquistar prefeituras. Enquanto candidatos dos 14 partidos que formam a coalizão do governo no Congresso brigam para colar a imagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e colocar em jogo o plano nacional, a oposição não quer nem lembrar do petista. A aposta do PSDB e do DEM é levar aos palanques questões regionais. Nada de artilharia pesada contra o presidente Lula.

Os discursos que os tucanos têm apresentado colocam em debate temas administrativos. A idéia seria mostrar ao eleitor que a intimidade com a situação regional, sustentam os caciques, é mais importante do que o entrosamento com o Palácio do Planalto.

¿ A competitividade é local ¿ afirma o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). ¿ Este não é o momento para lançarmos uma discussão nacional. É hora de os candidatos mostrarem ao eleitor o que eles podem fazer para melhorar diretamente a qualidade de vida em suas cidades.

PAC e Bolsa Família

Na avaliação de Guerra, o esforço de alguns governistas em ascender, durante as eleições municipais, questões nacionais como ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Bolsa Família, carros-chefe do mandato do presidente Lula, representa a falta de consistência da campanha.

¿ É legítimo ¿ declara o tucano. ¿ Mas se apropriar destes programas, na verdade, mostra a falta de um plano de governo, de proposta, capaz de seduzir o eleitor.

A falta de motivação da oposição para atacar o presidente Lula nos bastidores também é explicada pelos índices de popularidade do presidente e pelo rol de alianças que os partidos têm fechado país afora, que inclui parceria entre PT e PSDB. Na última pesquisa CNI-Ibope, divulgada no final de junho, o presidente Lula alcançou altos índices; sendo 70% de aprovação; 68% de confiança e de 72% aprovação do governo.

¿ Não há receio algum de enfrentar o presidente Lula ¿ diz o líder do DEM na Câmara e candidato à prefeito de Salvador, deputado ACM Neto (BA). ¿ É porque, agora, este não é o debate. Mas se for preciso apontar falhas, fazer críticas, faremos ¿ complementa o líder, que desde o lançamento de sua candidatura não tem protagonizado, nem no Congresso, mais embates e duros ataques ao governo.

Cabo eleitoral

O líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE) ¿ que apóia o deputado estadual João da Costa no Recife contra Raul Henry, do PMDB, que é a aposta de Sérgio Guerra ¿ tem outra justificativa.

¿ O presidente Lula é o melhor cabo eleitoral ¿ argumenta Rands. ¿ Ele é popular e tem ações sociais e econômicas a favor. Comprar briga com ele não é para qualquer um.

Para se ter uma idéia por que as alianças podem intimidar a oposição, PT e PSDB estarão juntos em pelo menos 1.130 cidades ¿ 20,3% do total dos 5.565 municípios existentes no Brasil. A dobradinha não é novidade. Os dois partidos integraram em 2004 coligações que permitiram eleger 149 prefeitos. Em 51 dessas cidades, um dos partidos tem o prefeito e o outro, o vice.

Os caciques tucanos explicam que a aliança ocorre em sua maioria nos rincões e que não reflete na disputa pelo poder político nacional e assim não teria efeito algum sobre os discursos. Pelos planos dos tucanos, o apoio dos petistas pode ampliar as chances de vitórias dos candidatos da legenda. A expectativa do PSDB é aumentar em 10% o número de conquistas municipais. Em 2004, saíram das urnas com 871 vitórias. Eles têm candidatos a prefeito em 35 das 78 cidades com mais de 200 mil eleitores.

São Paulo

Os oposicionistas reconhecem, no entanto, que podem subir o tom do discurso na disputa municipal de São Paulo. Por lá, o presidente Lula é reforço garantido para a campanha de Marta Suplicy (PT), que enfrenta o tucano Geraldo Alckmin e o democrata Gilberto Kassab. A disputa na capital paulista, inclusive, é encarada como termômetro para a sucessão presidencial de 2010.

¿ O importante é evitarmos o confronto entre nós (DEM e PSDB) ¿ pondera o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP). ¿ Temos que atacar o alvo certo que, neste caso, é o PT.

O desembarque do presidente Lula na capital paulista não preocupa tucanos e democratas. Líderes oposicionistas argumentam que o eleitorado de Marta já é formado em sua base pelos eleitores do presidente e com isso a passagem do chefe da nação não deve ser responsável pela transferência de muitos votos. Mas já sabem que vão apelar para críticas contra a política econômica, ressaltando os riscos da volta da inflação, para incomodar o presidente.