Título: Mais chance de subir na vida do que empobrecer
Autor: Leandro, Eloisa ; Lorenzi, Sabrina
Fonte: Jornal do Brasil, 06/08/2008, País, p. A2

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) derrubou ontem a velha tese de que só temos chance de enriquecer na vida quando nascemos ou casamos. Ao contrário do que aconteceu nas últimas décadas, brasileiros hoje têm mais possibilidade de subir na vida do que cair na pobreza. A disparada do emprego formal gerado nos últimos anos empurrou a mobilidade social e derrubou a desigualdade ­ que se mantinha persistente desde a década de 60. Na pesquisa A Nova Classe Média da FGV mostra que 4,7% dos brasileiros que começaram o ano na classe média subiram para a faixa A/B, enquanto 3,7% passaram para a classe E. E 84,6% deste pessoal permaneceu na classe média, sem perdas. Em 2003, era muito mais fácil ficar pobre do que rico. Do total de pessoas na classe média, 8,8% não conseguia manter o status e caia para a classe E, enquanto o contrário acontecia apenas com 2,3% de quem estava na classe média. Cerca de 78,8% dos brasileiros continuavam na classe média. ­ É uma mudança muito marcante, histórica. Tivemos nos anos 60 um aumento expressivo da desigualdade social que, até então ainda não havia sido tocado. Isso aconteceu agora ­ afirma o economista-chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, Marcelo Neri. A partir de dados da renda domiciliar do trabalho, o pesquisador concluiu que o índice de Gini (que mede a evolução da diferença entre ricos e pobres) recuou 4,5 pontos percentuais de 2002 a 2008. ­ Movimento nessa magnitude só aconteceu em 60, só que para pior, com renda concentrada ­ acrescenta.

Classe média

A desigualdade social dimi- nuiu em duas frentes: na migração de pobres para a classe média e na escalada de trabalhadores para a elite. O número de trabalhadores que estavam na classe A/B passou de 11,55% de 2003 para 15,19% em 2008. É a classe que mais cresce no período. Por outro lado, os 31% dos trabalhadores formais que estavam na classe recuaram para 18,3%. Eles migraram para a classe média, que passou a responder por mais da metade da população. A classe média representava 42% dos trabalhadores e hoje responde por 52% do total. O crescimento da classe média refletiu na queda da pobreza, que caiu ainda mais em 2008, depois de anos em declínio. De abril de 2007 a abril de 2008, a miséria recuou 13,5% "surpreendentemente", como descreve Neri: ­ Se por um lado está havendo alta da inflação, por outro há o aumento significativo de emprego formal. Foi 1,8 milhão de novos postos de trabalho em um ano ­ justifica. ­ Para quem é pobre é muito mais significativo um emprego novo na família do que menos um pedaço do salário. A FGV considerou que estão na classe E trabalhadores (ou desempregados) com renda domiciliar total de zero a R$ 768. Já a classe D tem renda domiciliar entre R$ 768 e R$ 1.064. Na classe C, a chamada classe média, a renda domiciliar total varia de R$ 1.064 a R$ 4.591, enquanto a chamada elite, ou classes A e B, tem renda acima de R$ 4.591. O pesquisador destaca que o país vêm conseguindo reduzir pobreza e desigualdade mesmo com a "tempestade" no mercado internacional. ­ É como se estivéssemos num oásis. A crise internacional não afetou as séries sobre a igualdade social, taxa de pobreza e número de empregos do Brasil. Podemos nos considerar privilegiados ­ comemora. Em suma, o bolo continua crescendo com mais fermento nas classes mais pobres atingindo há mais de cinco anos, combinação inédita na história estatisticamente documentada brasileira, conforme a pesquisa da FGV.