Título: Municípios menores têm mais vantagens
Autor: Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2008, Tema do Dia, p. A3

Mas se Lula não deve enfrentar maiores problemas na Justiça Eleitoral, a situação não promete ser a mesma no campo do marketing político. Ao menos, este é o entendimento de um dos maiores especialistas brasileiros no assunto, o consultor de marketing Gaudêncio Torquato.

¿ Transferência de votos não é uma coisa automática. Não funciona como um líder carismático a distribuir popularidade por onde bem entender ¿ ressalva Torquato.

O consultor analisa que a maior capacidade de Lula em impulsionar aliados acaba concentrada em municípios onde o presidente não deve se dar ao trabalho de visitar em campanha, principalmente pequenas cidades do interior nordestino onde o impacto do programa Bolsa Família é grande.

¿ Olha São Paulo, por exemplo, onde o presidente tenta ajudar Marta Suplicy. É uma cidade tão grande que os problemas locais, os problemas do município são grandes o suficiente para dominar a agenda da campanha e suplantar as questões nacionais ¿ considera Torquato. ¿ Ele vai então, no máximo, reforçar um sentimento, uma disposição que já existe no eleitorado.

Palavras mágicas

Alguns candidatos a prefeito, contudo, já demonstraram a intenção de driblar essa limitação tentando relacionar os problemas locais ao entrosamento da prefeitura com a União. No Rio de Janeiro, por exemplo, a maior parte dos candidatos ¿ com exceção de Solange Amaral (DEM), candidata do partido de oposição mais firme ao presidente Lula ¿ não abre mão do fator "melhor relacionamento com o governo federal" como palavra mágica para solucionar os problemas da cidade.

¿ Em alguns casos, é possível fazer esta conexão ¿ admite o consultor político. ¿ Mas depende muito do contexto local e do candidato. As pessoas esquecem que a transferência de votos depende muito do receptor. Ele tem que ter simpatia com as massas, postura ética, tem que ter o perfil adequado. Eu não acredito que ninguém seja capaz de eleger um poste.

Outro problema, lembra Torquato, é a fragmentação das candidaturas da base de Lula.

¿ Em Salvador e no próprio Rio de Janeiro, por exemplo, tem quatro ou cinco nomes dizendo que são os candidatos de Lula. Isso traz um certo desgaste e, provavelmente, o presidente nem por lá vai passar no primeiro turno ¿ conclui.