Título: Um dos maiores desafios é conquistar boa audiência
Autor: Seabra, Marcos
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2008, Eleições Municiapais, p. A14

Mais do que convencer os eleitores de que possuem um bom programa de governo, Kassab, Paes e Lacerda terão que convencer os tele-eleitores a, pelo menos, assistirem a propaganda eleitoral gratuita. Segundo levantamento do Ibope/Media Workstation, feito em 2004, a tarefa não será fácil.

Antes do horário eleitoral gratuito (entre os dias 1 e 16 de agosto de 2004), no horário vespertino (13h às 13h30), 38% dos televisores de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Curitiba e Porto Alegre estiveram ligados, correspondendo a um total aproximado de 4,4 milhões dos domicílios. Nos mesmos locais e horários, com a propaganda gratuita sendo veiculada, esse número caiu para 29%.

Também no horário vespertino, a audiência das emissoras a cabo ou pagas percorreram o caminho inverso. Nos dias de propaganda eleitoral, a audiência subia de 2% para 3% nos domicílios onde a TV estava ligada, sendo que os assinantes de TV paga somavam, em 2004, apenas 10% do total (1,6 milhão de residências). À noite, entre 20h e 20h30, o número de aparelhos ligados antes do horário eleitoral era de 67% (7,7 milhões de pessoas). Ao começar a propaganda, esse número caiu para 52% (6 milhões de pessoas). A audiência da TV paga, no horário, subia de 3% para 5%. Além disso, o número de assinantes de TV paga subiu mais de 38% de 2004 até dezembro de 2007, saltando de 3,8 milhões de domicílios para 5,3 milhões, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Outro diferencial que deve dificultar a vida dos candidatos que buscam virar o placar adverso são as novas regras da propaganda eleitoral. Em 2004, praticamente não havia regras que regulassem a propaganda eleitoral gratuita. A partir do escândalo do "mensalão" (suposta distribuição de dinheiro pelo governo federal para conseguir votos na Câmara Federal), a Justiça fez mudanças na legislação eleitoral. À época, em 2005, os partidos acusados de receber o "mensalão" adotaram a desculpa de utilizar os recursos nas campanhas, mas sem contabiliza-los.

Para limitar gastos de campanha, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu uma série de ações - distribuição de brindes e realização de showmícios, entre outros - e também os aspectos que considerou mais caros na produção dos programas eleitorais de rádio e TV. Entre as novidades da chamada minirreforma eleitoral para os programas estão a proibição de gravações externas, a trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo e a veiculação de mensagens que possam degradar ou ridicularizar um candidato, partido político ou coligação. Prefeitos que tentam a reeleição não podem mostrar imagens de obras efetuadas na cidade.

Segundo as regras do TSE, Kassab, em São Paulo, terá dificuldade maior, já que não poderá trazer para a propaganda eleitoral o depoimento de seus virtuais apoiadores, como o governador José Serra. O Tribunal proibiu também a participação na propaganda de TV de "qualquer cidadão" que seja filiado a outro partido ou a outra coligação que esteja disputando a eleição.