Título: Micobactéria pode levar até um ano para se manifestar
Autor: Sáles, Felipe; Victal, Renata
Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2008, Tema do dia, p. A2

A situação é preocupante, mas não alarmante. Esta é a avaliação do médico Juvêncio Furtado, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo. Ele explica que esta micobactéria, que é prima da tuberculose, existe no Brasil há pelo menos cinco anos e que a Anvisa apenas cumpriu seu papel de alertar aos médicos.

¿ No Brasil, os primeiros casos aconteceram em 2003 no Rio de Janeiro, no Pará e no Espírito Santo conta o médico. ¿ Para um país que não tinha quase nenhum registro apresentar 2.102 em 14 estados é preocupante, mas ninguém precisa sair correndo para os hospitais, nem procurar seu médico particular. Basta observar os sintomas.

E os sintomas são fáceis de serem percebidos, explica Furtado, mas o tratamento é demorado. Segundo ele, esta bactéria é chamada micobactéria de crescimento rápido porque pode demorar até um ano para se manifestar clinicamente.

¿ Normalmente ocorre um mês após o procedimento cirúrgico, mas pode levar até um ano. Vai aparecer uma infecção no local do corte e o paciente não vai responder aos antibióticos comuns. Ele vai apresentar um abscesso na pele, que não necessariamente terá pus, e o médico deve pedir um exame específico para a micobactéria. É preciso cuidado no diagnóstico porque não se pensa nesta possibilidade, a princípio.

Só este exame, esmiuça o infectologista, pode levar até 40 dias para ficar pronto e isso acaba prejudicando o tratamento. Sem tratamento, as infecções podem causar perda de tecidos e nódulos.

¿ É uma doença de difícil tratamento e pode se manifestar depois de procedimentos como lipoaspiração e cirurgias endoscópicas, que são os grandes vilões, mas pode se manifestar também depois de cirurgias de córnea, por exemplo.

Segundo Furtado, a esterilização química dos materiais, que deveria durar de 8 a 12 horas, geralmente não leva mais que poucas horas.

¿ Muitos materiais precisam ser esterilizados e não só higienizados ¿ ressalta o médico. ¿ A Anvisa está no papel de fazer o grande alerta, mas, se a gente for comparar com o número de pessoas que se submete a cirurgias de próteses, vamos ver que este percentual de infecção é pequeno. Fica um alerta aos médicos para que redobrem os cuidados na esterilização dos materiais.

Reduzir infecções é meta

A adoção de medidas simples, como a correta higiene das mãos dos profissionais de saúde e o uso dos chamados sistemas fechados para infusões na veia, poderiam reduzir o número de infecções hospitalares entre 30% e 70%. Na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o termo infecção hospitalar não deveria nem mesmo ser usado para classificar essa situação.

¿ Hoje falamos em Infecção em Serviços de Saúde porque elas podem ser contraídas em ambulatório, clínicas particulares e não apenas em hospitais. A meta é reduzi-las ao máximo, mas elas nunca vão deixar de existir ¿ acredita Furtado.

Registros do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram 15 milhões de pacientes internados anualmente. Destes, entre 20% e 30% contraíram infecções como pneumonia ou a chamada infecção sangüínea por cateter ¿ quando existem bactérias como as do gênero staphylococcus circulando pelas veias.

¿ O Centro de Terapia Intensiva (CTI) é onde menos se lava as mãos ¿ critica Furtado. ¿ Lavar as mãos de maneira correta é uma das mais efetivas de evitar a infecção, mas é um procedimento que muitas vezes não se faz. É simples, mas tem que ter pia nos hospitais. O controle dos cateteres deveria ser maior. Certamente o número de infecções cairia.