Título: Turbulência gerencial atrasa o Galeão
Autor: Leandro, Eloisa
Fonte: Jornal do Brasil, 10/08/2008, Economia, p. E4

Segundo maior aeroporto do país, Tom Jobim funciona com pouco mais da metade da capacidade de passageiros e sofre com a necessidade de pelo menos R$ 400 milhões para investimentos.

Os bons ventos que prometem trazer R$ 110 bilhões para a economia do Rio de Janeiro não devem soprar para os lados da porta de entrada do Estado, o Aeroporto Antônio Carlos Jobim, o Galeão. A verba de R$ 400 milhões pode parecer uma brisa diante do furacão de investimentos aguardados para o Estado até 2012 e da quantidade de melhorias que especialistas e usuários apontam como fundamentais para um país que planeja sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Mas as obras esbarram na má vontade política e na disposição de caixa da Infraero, estatal responsável pela gestão de 67 aeroportos no país.

Considerado o segundo maior aeroporto do Brasil, o Galeão enfrenta problemas de infra-estrutura, obras inacabadas desde 1998, época em que a construção do Terminal 2 foi interrompida por falta de verbas. Autoridades temem que os problemas estruturais, que vão desde reparos nas pistas de decolagem e pouso até enormes filas nos balcões de check-in, comprometam a capacidade de operação do aeroporto nos próximos anos e ameace a concretização de novos negócios.

¿ A falta de infra-estrutura é um problema que precisa ser resolvido o mais rápido possível, porque pode atrapalhar a atração de novos investimentos para o Estado, que passa por uma ótima fase de oportunidade de negócios ¿ queixa-se o secretário de Estado de Transportes, Julio Lopes.

O secretário calcula uma capacidade ociosa de passageiros de 40%, além de outros 70% de carga. O aeroporto ainda opera no vermelho com um déficit de R$ 196 mil ao mês, segundo Julio Lopes. A Infraero, entretanto, desmente as contas. Alega que o Galeão é o 6º mais lucrativo da estatal. Segundo registros da Infraero, o Tom Jobim faturou no primeiro semestre R$ 150,9 milhões, sendo R$ 12,3 milhões de lucro líquido, 58,7% a mais que o registrado no mesmo período de 2007, R$ 5,3 milhões.

No entanto, os recursos são insuficientes para a recuperação do Tom Jobim que necessita da liberação de recursos do governo federal para colocar o projeto em prática. A revitalização é dividida em três fases: reforma das pista número 10/28 e de taxiamento, pátio, obras de alvenaria e troca da instalação elétrica. A Infraero prevê a conclusão em novembro de 2009, desde que haja liberação de R$ 40 milhões imediata do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a publicação do edital de licitação do Terminal 2.

A promessa do governo federal é vista com descrença por autoridades do Estado, inclusive pelo governador Sérgio Cabral que criticou a gestão da Infraero e propôs a privatização como a solução do problema. Mas há dificuldade até de achar empresas interessadas. Exemplo: ano passado, a Infraero lançou dois editais de licitação para a reforma do Terminal 1, mas em nenhum deles houve empresas interessadas em tocar as obras.

Perspectivas futuras

O Galeão opera com 20 companhias aéreas na lista e um movimento mensal superior a 10 mil passageiros. Embora não use sua capacidade total de 15 milhões de passageiros ao ano, o Galeão funciona em condições precárias com um fluxo de oito milhões de pessoas.

No entanto, a perspectiva de novos negócios para o Rio pode agravar a sobrecarrega do espaço físico do aeroporto, ainda inacabado, e afetar os serviços ao usuário. A análise é do professor adjunto de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) do Instituto Cepta, Respício Espírito Santo.

A possibilidade de o aeroporto quase dobrar o fluxo de passageiros com a instalação de novas indústrias não é descartada. Se o país for escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíadas de 2016, a previsão é ainda mais pessimista.

¿ Todo o sistema aéreo do país passa por um momento difícil, incluindo o Tom Jobim. Todo aeroporto precisa de vários fatores para desempenhar um bom serviço. O principal problema se refere à gestão. A Infraero já deu várias provas de ineficiência ¿ dispara. ¿ O aeroporto precisa da individualização da gestão. A Infraero opera com cruzamento dos recursos, ou seja, transfere a verba de aeroportos para outros, deixando alguns defasados.