Título: Extremistas judeus ameaçam
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2005, Internacional, p. A7

Radicais hostilizam ministro, fazem protesto em Gaza e expandem assentamento no Norte da Cisjordânia

JERUSALÉM - Extremistas da direita judaica tentaram atacar o ministro das Finanças israelense, Benjamin Netanyahu, durante um casamento na noite de quinta-feira. Um pequeno grupo de pessoas contrárias ao plano de retirada da Faixa de Gaza, do primeiro-ministro Ariel Sharon, aproveitou a cerimônia para chamar Netanyahu de ''assassino''. Também disseram ao ministro, que não saiu ferido do incidente, que o dia dele ''vai chegar''.

Há relatos de que um prato foi lançado contra Netanyahu durante o casamento no vilarejo de judeus ultra-ortodoxos de Kfar Habad. Um porta-voz da polícia disse que um pneu do carro do ministro foi cortado.

Os agressores tentaram atacar o ex-premiê de 55 anos mas foram contidos por convidados. Seguranças retiraram o ministro do local.

- Acreditamos que houve até participação de três menores no incidente, mas ninguém foi preso ainda - disse o porta-voz da polícia israelense Gil Kleiman.

No casamento, os militantes cercaram Netanyahu e começaram a gritar frases como ''o sangue judeu não será derramado em vão''.

No início da semana, o ministro da Educação, Limor Livnat, foi insultado por ativistas do Kach, movimento racista antiárabe, quando participava de um funeral.

Ariel Sharon denunciou nos últimos dias as ''ameaças constantes'' a que são submetidos os deputados do Likud, seu partido, por parte de extremistas que os pressionam para impedir a evacuação de 8 mil colonos da Faixa de Gaza.

No entanto, Netanyahu e Livnat não são partidários da retirada de Gaza e propõem a realização de um referendo a respeito, o que coincide com o desejo dos colonos.

Em Gaza, extremistas judeus bloquearam a principal estrada da região, impedindo a passagem de veículos palestinos, em um protesto contra o governo israelense e o lançamento de morteiros pelas milícias árabes contra os assentamentos, na quinta-feira.

Dezenas de colonos ocuparam durante a manhã o cruzamento de Gush Katif, na estrada de Saladino - que cruza Gaza de Norte a Sul - e impediram a passagem de carros palestinos.

Os colonos reclamaram da decisão do governo israelense de não responder com ataques ao lançamento de cerca de 40 morteiros contra os assentamentos.

A polícia, que já reabriu a estrada, prendeu quatro manifestantes para interrogatório e os liberou depois.

Ao Norte da Cisjordânia, outros colonos judeus conseguiram burlar, na madrugada de ontem, as forças do Exército israelense e colocar uma casa pré-fabricada em um enclave considerado ilegal, que Israel promete evacuar.

O fato ocorreu próximo ao assentamento de Itamar, povoado por radicais de extrema-direita que se opõem a qualquer retirada de assentamentos judaicos e à entrega de territórios aos palestinos.

Segundo os colonos, a casa pré-fabricada foi posta no local para substituir outra em precárias condições. Eles aproveitaram a troca da patrulha de vigilância miltar na região.

O Exército israelense declarou ''zona militar fechada'' a chamada colina 782, onde foi situada a casa pré-fabricada, e exigiu a evacuação da região até domingo.

Desde que começou a Intifada de Al-Aqsa (revolta palestina), em setembro de 2000, os colonos levantaram uma centena de novos enclaves na Cisjordânia em uma tentativa de expandir os assentamentos judaicos em território palestino.

Ariel Sharon se comprometeu a evacuar todos esses enclaves, ou mini-assentamentos, dentro da primeira fase do Mapa do Caminho - plano de paz para a região - embora até agora o Exército tenha desmantelado menos de uma dúzia.