Título: Transporte de cargas na berlinda
Autor: Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 12/08/2008, Economia, p. A18

Setor prevê mais aumento de preços, com demanda em alta e gargalos na infra-estrutura do país

Gabriel Costa

O transporte rodoviário de cargas, que leva 58% dos produtos no país, está à beira de um apagão geral, acredita mais da metade das maiores empresas do setor. A alternativa para a crise iminente seria um aumento imediato da eficiência do sistema de transporte, informou ontem o professor do Instituto Coppead de Administração da UFRJ, Paulo Fleury, na abertura do XIV Fórum Internacional de Logística, que acontece até amanhã em São Conrado.

As restrições de capacidade de outros meios de transporte também causam impacto no sistema rodoviário. Segundo a pesquisa, entre 2001 e 2006 a produtividade do sistema ferroviário nacional aumentou 59%, mas a velocidade de percurso caiu 12%, o que reduziu a capacidade. Dessa forma, os clientes relutam em optar por um meio de transporte diferente do rodoviário, mesmo com a infra-estrutura deficiente ¿ apenas 12% das estradas do país são pavimentadas, a maioria em condições precárias, e a idade média da frota é de 16,3 anos ¿ e os preços em alta.

¿ Está claro: se a capacidade do setor atender a demanda já não estourou, está estourando. As nuvens negras estão no céu, se vai chover ou não, só quem tem bola de cristal pode saber ¿ disse Fleury.

Entre as causas da possível crise, está a inversão da relação entre oferta e demanda, causada pelos avanços na regulamentação do setor e pelo aquecimento da economia nacional.

Segundo dados da pesquisa Transporte Rodoviário de Cargas: Estudo de Oferta e Demanda, do Coppead, entre 2005 e 2006, o crescimento médio do TKU rodoviário (toneladas por quilômetro útil, principal medida de capacidade do segmento), equivalente à demanda por transporte de cargas, foi de 1,7%, e a frota de caminhões cresceu 3,8%.

Regulamentação do setor

Na época, as únicas exigências para os caminhoneiros que quisessem trabalhar no setor eram a vistoria anual e o respeito ao peso máximo por eixo. De lá para cá, foram criadas regulamentações como o registro nacional obrigatório, requisitos adicionais à habilitação e a frota mínima para registro. As novas regras frearam o crescimento da oferta, que de 2006 para 2007 cresceu 4,5%. No entanto, o crescimento econômico puxou 5,5% a demanda e fez com que ela ultrapassasse a oferta. Resultado: os preços subiram 6% só este ano.

De acordo com o diretor da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Geraldo Vianna, os avanços na regulamentação eram necessários, mas podem ter sido implantados na hora errada.

¿ A regulamentação devia ter sido feita antes dessa pressão da demanda. Fazer isso agora é um desastre, tem gente que está comprando caminhão e deixando parado por falta de motoristas ¿ disse o diretor da CNT.

Vianna lembrou ainda que a venda de caminhões teve índices de crescimento bastante significativos em 2007, de 30%, e 2008, entre 20% e 25%. a alta, entretanto, não foi acompanhada pela mão-de-obra.

Para o professor Paulo Fleury, o grande impasse do mercado é atender as exigências crescentes dos embarcadores ¿ 89% das empresas consultadas disseram que seus clientes ficaram mais exigentes com o passar dos anos ¿ ao mesmo tempo em que reduz os custos de transporte, que acabam sendo repassados aos produtos.

¿ Nós estamos inclinados a acreditar que o cenário que vai se concretizar é o do aumento de produção, até pelo bom momento do país, mas precisamos estar preparados para a possibilidade de crise. Não há duvidas de que a situação está melhorando, mas não sabemos se será suficiente.