Título: Família tenta retomar cotidiano
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2005, Internacional, p. A8

Sem se pronunciar até agora sobre o caso, filhos do engenheiro feito refém no Iraque revelam como enfrentam a angústia diária

Sem qualquer notícia sobre o paradeiro do engenheiro João José de Vasconcellos Jr., feito refém há 23 dias no Iraque, sua família retornou ontem ao Rio de Janeiro, de onde se ausentou desde que recebeu a notícia do seqüestro. O objetivo é, ''na medida do possível'', voltar ao cotidiano enquanto se aguarda o desfecho do caso.

- Estávamos no interior de São Paulo - revelou Rodrigo Oliveira de Vasconcellos, 24 anos, filho mais velho de João. - Mas as aulas recomeçam segunda-feira e voltamos para encarar o dia-a-dia - acrescentou o estudante de Ciência da Computação, na primeira vez em que se pronunciou sobre o caso.

Rodrigo e Gustavo Oliveira de Vasconcellos, filho mais novo do engenheiro, com 16 anos, participaram ontem de uma coletiva de imprensa na Barra da Tijuca, bairro onde moram. Da entrevista se ausentaram a mãe, Tereza, e a irmã, Tatiana, de 21 anos. Segundo explicou o irmão de João, Luiz Henrique Vasconcellos, as duas estão extremamente abaladas e sem condições de falar sobre o assunto.

- Tatiana está calada e Tereza nem consegue ler o noticiário. Outro dia, mostrei uma matéria que saiu no jornal e tive que acudi-la depois. Ela fica muito mal.

Segundo Rodrigo, as primeiras 72 horas foram as mais difíceis. A família foi avisada pela construtora Norberto Odebrecht, para a qual João trabalhava, logo que ocorreu o incidente.

- Não conseguíamos dormir, aguardando notícias. Minha mãe costuma dizer que esse silêncio [por parte dos seqüestradores]é o mais barulhento que existe. É duro de suportar.

A última vez que o engenheiro conversou com a família foi em 18 de janeiro, um dia antes de ser capturado em Beiji, Norte do Iraque, num ataque assumido pelos grupos Ansar al Sunna e Brigadas de Mujahedin.

- Conversávamos diariamente pela internet, é um pai muito presente. Instalamos uma webcam em casa - contou. - Naquele dia, eu e minha mãe estávamos na varanda e viramos a câmera para o pôr-do-sol, para que visse. Mas ele virou para nós e disse que pôr-do-sol ele também podia ver lá, mas a família, só de vez em quando - acrescentou, emocionado.

Os Vasconcellos tinham planejado visitar a Disney em janeiro e João não pretendia voltar ao Iraque. Quando foi capturado, estava a caminho do aeroporto, retornando ao Brasil.

- Isso é ainda pior, íamos nos ver em dois dias. Mas pode demorar o tempo que for, ele vai voltar. E, se Deus quiser, ainda passaremos seu aniversário, dia 24, juntos - disse Rodrigo, que revelou ter começado a rezar quando soube do seqüestro. - Tento transmitir calma a meus irmãos e minha mãe, sei que é isso que meu pai quer que eu esteja fazendo.

Na quinta-feira, a embaixada brasileira na Jordânia emitiu um novo apelo pelo refém. Mas os esforços do governo ainda não são considerados suficientes pela família: ''São os possíveis'', comentou Luiz Henrique.