Título: Itaipu vira slogan de gritos e ganha manchetes de jornais
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 16/08/2008, Internacional, p. A20

Quando o presidente Lula che- gou para a cerimônia de posse, o povo o saudou aos gritos de "Itaipu, Itaipu". O ABC Color, maior jornal do país, que inflamou a campanha eleitoral com editoriais, caricaturas e capas duramente críticas ao Itamaraty e à política brasileira para Itaipu, ontem veio com a primeira página em preto e branco. Sem fotos ou manchetes, o jornal trouxe um editorial de primeira página sob o título "Acabar com o roubo de Argentina e do Brasil ao Paraguai". Pressionado pelo que os paraguaios classificam como demanda histórica de justiça, Lula se declarou disposto a negociar. No entanto, com ressalva à modificação do preço que o Paraguai vende ao Brasil: ­ O que for possível negociar vamos negociar, porque queremos ajudar o Paraguai. Temos o compromisso de ajudar o Paraguai a melhorar a situação do seu povo. No entanto, qualquer aumento de tarifa da energia de Itaipu que incidir sobre um aumento de tarifa para o povo brasileiro aí fica complicado. Mas como Lugo ainda não me apresentou a demanda, vou aguardar. O diretor da Itaipu paraguaia, Carlos Mateo, disse ao JB, que "as mudanças que se introduzam na usina de Itaipu vão definir o novo perfil da liderança brasileira na região e a modalidade de inserção do Paraguai no cenário global": ­ O Brasil tem liderança regional de prestígio, além de ser um player global. Queremos que isto signifique reconhecer nossos direitos. A delegação brasileira se mostrou disposta a ajudar no desenvolvimento industrial do Paraguai, conta Ricardo Canese. O engenheiro que integrará o Conselho de Itaipu avalia ser fundamental a participação brasileira no desenvolvimento paraguaio: ­ O Brasil pode nos ajudar com infra-estrutura, transferência de tecnologia e, dentro do Mercosul, com mudanças que permitam às nossas pequenas indústrias adequarem-se às regras do bloco, pois esta é a primeira trava para nosso desenvolvimento industrial. Nelson Franco Jobim, pesquisador do Centro de Estudos das Américas da Universidade Cândido Mendes, lembra que a relação de poder nesta negociação é muito desigual e avalia que não interessa a ninguém comprar briga: ­ Ao Brasil não interessa uma reação do Paraguai que o una à esquerda radical latina, e ao Paraguai não interessa comprar briga com o sócio mais poderoso da região.

Lula disse aguardar proposta paraguaia para negociar, mas rechaçou mudança na tarifa de energia

Além disso, ambos países têm temas importantes para trabalhar em conjunto sobre as regras de origem. Dentre eles, o contrabando, o tráfico de drogas e a criminalidade. Otimista, Frei Betto crê "que o Brasil e o Paraguai serão, agora, melhores parceiros": ­ Espero que nosso país reveja o valor pago ao Paraguai pela energia de Itaipu, assim como fez com o gás da Bolívia. O Brasil não vai rever o tratado, mas vai negociar. Ou seja, o papel permanecerá intocado, mas acredito que será feito o que interessa: a revisão dos valores.