Título: Mal-estar no Congresso
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, País, p. A3

A proposta da Mesa Diretora de reajustar o salário dos parlamentares e as verbas de gabinete provocou ontem um visível mal-estar no Congresso. Deputados de todas as legendas não se mostraram seguros em defender em público a proposta, alegando que arranha a imagem do Legislativo. - Temos de dar o exemplo, se quisermos fazer de fato uma crítica à política econômica do governo. - protestou o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE).

A Executiva Nacional do PSDB, reunida ontem em Brasília, já declarou que não há como concordar com a proposta de aumento neste momento. A bancada do PSB, que se reuniria no início da noite, tendia a seguir na mesma direção.

A bancada do PT também bateu forte na proposta. O novo líder do partido na Casa, Paulo Rocha (PA), lembrou que os petistas sempre foram favoráveis a que os deputados tenham condições para exercer seus mandatos. Mas criticou o reajuste salarial.

- Nos posicionamos contra um tipo de aumento, porque isso está fora da realidade do país e se choca com as condições que a economia tem dado de aumento para os trabalhadores - argumentou Rocha.

O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), escapou pela tangente, afirmando que este assunto cabe ao Parlamento e o Executivo não vai emitir qualquer opinião. O vice-líder do governo na Casa, Beto Albuquerque (PSB-RS), expôs sua revolta, deixando claro que era uma opinião de parlamentar e não, de integrante do governo:

- Se a proposta for para plenário, vamos trabalhar para que seja voto nominal, não pode ser votação simbólica.

O deputado gaúcho afirmou que o ''cidadão brasileiro tem o direito de saber o voto de cada deputado neste assunto''. Para Beto, a previsão na Constituição de que o teto salarial deve ser equivalente não obriga o reajuste dos deputados.

- Teto não é piso, esse aumento é imoral - acrescentou.

O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), acha que a votação simbólica ou nominal em plenário pouco vai alterar na imagem do Legislativo. Ele confirmou que já vem ouvindo piadinhas de eleitores desde a semana passada, quando foi eleita a nova Mesa.

- Para a sociedade, já estamos ganhando R$ 21 mil, não tem jeito - lamentou.

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), não assinou o requerimento de urgência para tramitação da matéria porque ainda não foram apresentados os gastos que serão cortados para garantir o aumento. Maia admitiu assumir o desgaste se tiver como mostrar à população que outras despesas supérfluas estão sendo cortadas. O pefelista também criticou deputados que estão prometendo pedir a votação nominal.

- Se eles não forem líderes, nem adianta falar isso. È demagogia para posar de bonzinhos perante a opinião pública - cutucou.