Título: Novo líder petista critica Severino
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, País, p. A4

O ''estilo Severino Cavalcanti'', de marcar posição de independência com relação ao governo, algumas vezes de forma ácida, provocou ontem uma reação do novo líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA). O líder chegou a afirmar que o relacionamento entre o Executivo e o Legislativo estaria ameaçado.

- Vejo isso como um estilo que coloca em xeque as relações de Poderes. Não é bom assim - criticou Rocha, eleito ontem pela bancada de 91 deputados, a maior da Câmara

Desde que foi eleito presidente da Câmara, na semana passada, Severino (PP-PE) tem repetido críticas ao ''domínio'' da pauta do Legislativo pelo Palácio do Planalto e ataques à política econômica, a cargo de ''tecnocratas insensíveis que não sabem o que é o trabalho''. Também acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de viver ''trancado'' com seus assessores no Planalto.

O estilo de Severino, para o líder do PT, é ainda reflexo de sua surpreendente vitória. Com ironia, Rocha afirmou que o presidente da Câmara permanece no ''momento do festejo''.

- Ele retornará à normalidade - arrematou.

Rocha afirmou que a bancada do PT é contra o aumento dos salários dos deputados de R$ 12 mil para R$ 19 mil, que seriam equiparados aos dos ministros do Supremo, principal bandeira de campanha de Severino.

- Está fora da realidade do país - declarou.

Mas o petista se colocou favoravelmente a outro ponto do pacote de benefícios em discussão para os deputados: o aumento da verba de gabinete dos atuais R$ 35 mil mensais para até R$ 50 mil.

- Somos favoráveis a criar mais condições para o exercício do mandato, que seria aumentar a estrutura e a verba de gabinete - afirmou o deputado.

Em seu primeiro dia como líder, Rocha, um dos mais destacados integrantes da ''tropa de choque'' do governo na Câmara, fez uma defesa da política econômica do governo.

A ligação umbilical dele com o Palácio do Planalto foi apontada reservadamente por alguns deputados petistas como um problema, especialmente em um momento de afirmação da Câmara.

Rocha defendeu inclusive a necessidade do corte de emendas coletivas do Orçamento, aventada pelo governo, que pode chegar a cerca de R$ 7,8 bilhões.

A posição contrastou com o discurso de ontem, quando Rocha aceitou encampar um texto contrário a votar a autonomia do Banco Central em 2005, o que contraria a equipe econômica.

No meio da tarde, o novo líder teve sua primeira audiência com Lula, no Palácio do Planalto.

- Segura essa onda agora - disse o presidente, em referência à necessidade de recompor a base.