Título: Lula mantém discurso pela educação para defender mudanças
Autor: Seabra, Marcos
Fonte: Jornal do Brasil, 15/08/2008, Economia, p. A17

BARCARENA, PARÁ

Em meio à discussão da reforma tributária, que traz em seu corpo o fim da guerra fiscal, e à queda de braço entre os Estados pela redistribuição dos royalties de petróleo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem o aumento de investimentos da iniciativa privada em regiões mais pobres do país. Em discurso com forte tom político, Lula criticou a concentração de recursos privados nas regiões Sudeste e Sul. ­ O Brasil foi ficando meio torto, só cresceu um lado e o restante do território nacional ficou um pouco que abandonado durante muitos anos ­ disse. O presidente citou a iniciativa de Juscelino Kubitschek e a construção de Brasília e a implantação da Zona Franca de Manaus como exemplos de políticas para o desenvolvimento de regiões fora do eixo Rio-São Paulo e comemorou o anúncio, pela Vale, da construção de uma siderúrgica em Marabá (PA). ­ Há 20 anos não se constrói um alto-forno no país. É o tempo de uma geração. O Brasil não pode se dar ao luxo de continuar importando aço produzindo ferro ­ disse Lula.

Nova estatal

No Pará, o presidente voltou a bater na tecla de uma possível mudança nas regras de exploração do petróleo para as reservas pré-sal, usando como principal argumento a promessa de destinação de parte dos dividendos gerados com a exploração dos novos campos do combustível para investimento em educação. De acordo com o presidente, o país paga hoje o ônus de não ter investido em educação no passado com a escassez de mão de obra qualificada para suprir a demanda gerada pela industrialização. ­ Quando você tem todo mundo ávido para contratar e faltando mão-de-obra no mercado, nós acordamos para o erro que o país cometeu quando não fez os investimentos corretos em educação há 50 anos ­ disse o presidente. A discussão sobre as mudanças na legislação, tema que tem gerado divisões dentro do próprio governo, tem para Lula acentuado valor político. Primeiro, com a bandeira de sanar a dívida social do governo com o país, é o fecho, a chave de ouro para o segundo mandato do presidente. Pesa também na ênfase que o Palácio do Planalto tem dado ao potencial que as mudanças na lei do petróleo têm para alavancar a possível candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial em 2010. Com essa lógica em mente, Lula tem insistido no mote que sustenta a criação de uma nova estatal para administrar a exploração das reservas pré-sal. ­ Agora, o que nós vamos fazer com esse petróleo? Vender, pura e simplesmente? Quem quiser tirar petróleo aqui, vem, tira tudo o que quiser? ­ questionou Lula, ao defender a revisão das regras de exploração do combustível. ­ Deus não nos deu isso para que a gente continuasse fazendo burrice. Deus fez sinal para nós, mais uma chance para o Brasil. E esse petróleo está a quase 7 mil metros de profundidade, a uma temperatura de mais de 200°. Nós vamos buscá-lo. E na hora que nós formos buscá-lo, vamos lembrar que esse país tem uma dívida histórica com a educação do seu povo.