Título: Soberania contra grupos econômicos
Autor: Arêas, Camila
Fonte: Jornal do Brasil, 15/08/2008, Internacional, p. A21

ENTREVISTA JORGE LARA CASTRO

Sociólogo da Universidade Católica de Assunção e ex-representante do Paraguai na ONU, o vice-chanceler Jorge Lara Castro admite oposição interna dos chamados "barões de Itaipu".

Quais são as maiores dificul- dades em negociar o Tratado de Itaipu com o Brasil?

Há muitas posições. Uma, que louvamos, compreende as opiniões de Marco Aurélio Garcia e de Lula. A outra, de setores inflexíveis e contra a qual lutamos, engloba poderosos grupos econômicos que evidentemente se beneficiam do uso de nossa energia a preço de custo. Mas com estes não dialogamos.

E dentro do Paraguai, quais seriam os setores opositores à negociação?

Os grupos políticos ligados ao ex-ditador Alfredo Stroessner, que se beneficiaram da entrega de nossos recursos naturais aos brasileiros. São os chamados "barões de Itaipu", que contam com representação no Congresso.

Há espaço para uma negociação que não mexa no preço da energia?

Não. O Paraguai não pode re- nunciar a sua soberania. Não se pode exigir ao país que aprofunde a miséria e subdesenvolvimento em função de poderosos grupos econômicos que se aproveitam da energia subsidiada. Vamos ouvir o Brasil, o que não se pode deixar de lado é uma demanda histórica do Paraguai. Para que esta democracia se solidifique, é preciso mudar a estrutura que mantém a pobreza e a injustiça.