Título: PMDB escolhe Saraiva Felipe
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, País, p. A4

Candidato da ala oposicionista vence disputa interna considerada ilegal pelos governista

A guerra pela liderança do PMDB na Câmara teve mais um capítulo ontem. O grupo oposicionista reuniu-se na Câmara e, por 43 votos favoráveis, um branco e um nulo, confirmaram o deputado Saraiva Felipe (MG) como novo líder da bancada na Casa. Também ficou definido que a escolha do líder, daqui para frente, só poderá acontecer por votação secreta e não, com a apresentação de listas de apoios assinadas por deputados. A ala governista do PMDB esvaziou o encontro. Nenhum representante ligado ao líder deposto, José Borba (PR) compareceu à reunião de bancada. Enquanto os oposicionistas elegiam Saraiva, Borba participava de reuniões secretas na Câmara. A disputa está longe de acabar. O peemedebista mineiro deixou o encontro com discurso de líder eleito.

- Nestes dois anos, sempre votei seguindo a orientação partidária. Sou um homem de partido, um nome bom para unificar a legenda - garantiu.

Borba ironizou a eleição, lembrando que ratifica o cenário dos últimos dias, mas que não tinha validade legal. Advogados do parlamentar paranaense prometem entrar na justiça contra o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP). A reclamação é de que a direção partidária, diante do festival de filiações e impugnações das últimas semanas, só cancelou a entrada de parlamentares que apoiariam José Borba. Os deputados trazidos pelo ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, não teriam sofrido qualquer restrição.

O PMDB inchou e esvaziou de forma assustadora nos últimos 20 dias. Em meados de janeiro, o partido tinha 77 deputados. Convidados por Garotinho, sete deputados ingressaram na legenda. Os governistas, comandados pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, agiram na mesma moeda. O PMDB chegou a ter 94 deputados. Voltou a murchar, diminuindo para 90, 89 até 85.

Os dois lados estão em guerra declarada desde o ano passado, quando foi realizada uma convenção nacional para decidir o desembarque do governo. A saída foi confirmada, mas a convenção foi anulada na Justiça. Na noite de terça, os dois lados quase saíram nos tapas na presidência da Câmara.

No mesmo dia, Garotinho conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros. O ex-governador do Rio não esconde sua irritação com o governo federal, alegando que o Planalto discrimina o Rio na divisão de verbas. Todos estes fatores contribuem para que o PMDB fluminense se coloque na oposição ao governo Lula.

Renan sabe destas pendências e abriu um canal de interlocução com Garotinho. Mesmo sem ser explícito, mostrou que poderia facilitar um entendimento entre o governo fluminense e o federal, desde que o ex-governador pare de incendiar o partido.