Título: Cariocas ficam indignados com decisão tomada pelo STF
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2008, País, p. A2

Uma decisão desagradável. Foi desta forma que a maioria das lideranças da sociedade civil organizada ouvidas pelo Jornal do Brasil classificou a decisão tomada pelo STF anteontem. O sentimento geral é de que a medida ¿ amparada no preceito constitucional de que todos são inocentes até a condenação em última instância ¿ pode contribuir para o aumento da sensação de impunidade no país.

¿ Se eu estiver com meu nome sujo no Serviço de Proteção ao Crédito não posso nem me inscrever para um emprego, mas o candidato processado pode ¿ desabafou Marcia Vera Vasconcellos, presidente da Federação das Associações de Moradores do Rio (FAM-Rio).

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo, apesar de admitir que o STF seguiu a Constituição no que se refere à presunção de inocência, diz que o órgão jogou luz sobre um grande problema do Judiciário.

¿ Mostrou a lerdeza da Justiça. Não é possível que um candidato com 22 processos não seja condenado em nenhum e possa continuar na política.

A deputada estadual Cidinha Campos (PDT) concorda com Azedo no que diz respeito à lentidão da Justiça.

¿ Seria ótimo se o Poder Judiciário se comprometesse a resolver agora todos esses processos que envolvem candidatos, num esforço concentrado. Mas os políticos usam seu poder para atrasar o andamento e muitos vão morrer sem punição.

Seu colega na Assembléia Legislativa, deputado Marcelo Freixo (PSOL), acha que deveria haver flexibilizações.

¿ A decisão foi dentro da lei, mas não deveriam liberar candidatos já condenados em primeira instância. Também não se pode confundir processos por calúnia com outros por homicídio ¿ opinou.

Visões idênticas

Líderes comunitários do Leblon e do Humaitá, Augusto Boisson e Paulo Giffone têm opiniões muito parecidas.

¿ Temos uma legislação falha, que permite esse tipo de brecha ¿ reclamou Boisson.

¿ O único meio de protestar é eleger apenas gente nova na política ¿ pregou Giffone.

A presidente da CUT-RJ, Neuza Pinto, radicalizou:

¿ A decisão é uma vergonha. Dificilmente os magistrados votam contra a classe dominante.

No meio artístico, também houve revolta:

¿ Esse presidente do STF, o Gilmar Mendes, está se especializando em ser do contra. É um absurdo ¿ protestou o compositor Moacyr Luz.

O jornalista e apresentador do programa humorístico CQC, da Band, Marcelo Tas, não brincou:

¿ Só num país injusto e surrealista como o Brasil isso acontece.