Título: Analistas divergem sobre inflação
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 09/08/2008, Economia, p. A16

IPCA e IGP-M apresentam números menores, mas economistas têm avaliações diferentes

Ludmilla Totinick

A primeira prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do Índice Geral de Preços (IGP-M) divulgada ontem aponta números menores do que em períodos anteriores. O IPCA medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou desaceleração, ao somar 0,53% em julho, contra alta de 0,74% no mês anterior. Foi a menor taxa desde novembro de 2007 (0,38%). Já o IGP-M apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que houve deflação de 0,01% em agosto. Em julho, a variação tinha sido de 1,55%.

Apesar dos números mais baixos, os economistas ainda divergem sobre o comportamento futuro da inflação e sobre a atitude que deve ser tomada pelo Banco Central com relação à taxa de juros.

O economista da FGV Salomão Quadros ainda defende o aumento da Selic. Acha que a redução veio em boa hora, mas avalia que ainda é cedo para se falar no fim do processo inflacionário.

¿ É um alívio. A redução dos preços das matérias-primas, dos produtos siderúrgicos e dos fertilizantes contribuiu para que isso ocorresse, mas ainda há pressão acumulada ¿ explica o economista, responsável pelo IGP-10. ¿ É muito cedo para o Banco Central baixar a taxa básica de juros, pois é a única ferramenta disponível para o combate da inflação. Quando há aumento da taxa de juros, imediatamente sobe a taxa de crédito.

Segundo Quadros, houve uma diminuição de vários itens, que pode não continuar nos próximos meses.

¿ Posso citar pelo menos 10 produtos, mas isso não vai acontecer o tempo todo, o cenário pode mudar nos próximos meses ¿ explica o economista. ¿ Pode haver uma melhora, mas temos de estar preparados para futuras oscilações. Afinal o quadro mundial não mudou, e o processo inflacionário continua.

Do lado oposto está Reinaldo Gonçalves, professor de economia internacional da UFRJ, que é totalmente contra o aumento da taxa de juros.

¿ Isso mostra a incompetência do governo no diagnóstico da inflação ¿ comenta Reinaldo. ¿ O Banco Central é covarde pois não tem coragem de dizer não ao sistema bancário, que é o grande financiador de campanhas políticas.

O economista acrescenta ainda que o governo "sempre vai arranjar um pretexto" para justificar o aumento da taxa de juros.

¿ Haverá sempre um argumento para explicar o crescimento da Selic ¿ diz Reinaldo. ¿ Freqüentemente quando há arrefecimento da pressão inflacionária, o governo, na maioria das vezes, não reduz, e até aumenta, a taxa básica. Usa como justificativa a situação externa. E como ela está se deteriorando muito, provavelmente até dezembro vai usar isto como argumento para alcançar a taxa de juros que o mercado deseja.

Reinaldo sugere ainda o descolamento da taxa de redesconto da taxa Selic para que não ocorra a quebra das financeiras e exista a possibilidade de redução da quantidade de empréstimos nos bancos.

Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 6,37%, acima dos 6,06% identificados nos 12 meses anteriores. Os alimentos registraram alta de 1,05%, abaixo dos 2,11% constatados no mês anterior. Tiveram quedas expressivas o arroz, que depois de alta de 9,90% em junho, registrou variação negativa de 0,51% em julho. Também apresentaram taxas negativas a farinha de trigo (de 2,37% em junho para -1,75% em julho) e o pão francês (de 1,32% para -0,11%).

As carnes exerceram a maior pressão individual sobre o IPCA, com 0,09 ponto percentual. Mesmo assim, registraram desaceleração, de 6,91% em junho, para 4,35% no mês seguinte. As refeições fora de casa contribuíram com 0,07 ponto percentual, alta de 1,77%.

Os produtos não-alimentícios aceleraram para 0,38%, ante 0,34% em junho. Influenciaram o resultado tarifas de ônibus interestaduais, que variaram 8,38%, terceira maior contribuição individual, com 0,03 ponto percentual.

O IPA (preços no atacado) teve deflação de 0,24% ante 1,97% na primeira prévia do IGM-M de julho. Os principais decréscimos foram verificados para os preços do subgrupo materiais e componentes para manufatura, que variaram 0,68% ante uma alta de 1,73% no período anterior.