Título: Planejamento familiar para acabar com abortos
Autor: Verly, Ana Paula
Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2008, Eleições municipais, p. A4

Crivella defende a ligadura de trompas. Igreja reage

Ana Paula Verly

Em meio a crianças e barracas de produtos piratas da Pavuna, Zona Norte, o candidato Marcelo Crivella (PRB) defendeu ontem medidas de planejamento familiar para acabar com a miséria e o desemprego, típicos dos lugares onde tem maior aceitação. Sem mencionar abertamente a igreja católica ¿ contrária aos métodos artificiais de contracepção ¿ o candidato atribuiu o crescimento desordenado da população aos dogmas religiosos e à falta de uma política de controle de natalidade.

¿ Sem essa política, o que vemos é a proliferação de clínicas de aborto e meninas chegarem aos 20 anos com três, quatro e até cinco filho ¿ disse o candidato.

Com um projeto de lei em tramitação no Congresso que defende a redução de 25 para 18 anos da idade permitida para quem deseja submeter-se à esterilização, Crivella pretende oferecer as cirurgias de laqueadura e vasectomia de graça na rede municipal de saúde. Como o projeto que está em Brasília, a idéia do candidato é permitir que a cirurgia seja feita sem a necessidade do aval do marido.

¿ A lei hoje é machista, porque o homem, para fazer a vasectomia, não precisa pedir à mulher.

Crivella também é a favor de o governo federal criar o Dia Nacional do Planejamento Familiar ¿ uma data com ações de esclarecimento sobre os métodos contraceptivos e distribuição de camisinhas e pílulas anticoncepcionais.

Proposta atacada por bispo

O bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a esterilização é tema cada vez mais recorrente em campanhas eleitorais.

¿ A medida é uma de falta de respeito à dignidade das mulheres. O controle artificial ainda sai caro o contribuinte. Existem métodos mais baratos, como a educação sexual, em que o gasto é quase nulo, basta observar o ciclo menstrual da mulher ¿ defende Dom Antônio, que cita os riscos das cirurgias como agravante. ¿ Não se ataca problemas sociais, humanos, por meio da tecnologia.

Dom Antônio explica que a laqueadura das trompas pode causar frigidez sexual, e a redução de idade privilegia determinados grupos econômicos e políticos.

¿ Em caso de arrependimento, a mulher tem que passar por outra cirurgia ou apelar à fecundação artificial, que é caro ¿ encerrou.

Alheio à polêmica, Crivella reiterou a proposta de criação de uma Zona Franca Social, na cidade, para dar incentivos fiscais aos empresários que capacitarem e empregarem moradores de áreas carentes.

¿ A população pode produzir uniformes escolares, de garis, fardas, lençóis, placas de trânsito, calcinha, cueca e tudo mais ¿ listou.