Título: Morales enfrenta referendo que pode tirá-lo do poder
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/08/2008, Internacional, p. A21

Dirigente conta com apoio de zonas indígenas para silenciar oposição

O presidente da Bolívia, Evo Morales, seu vice, Alvaro Garcia Linera, e oito dos nove governadores de Departamento da Bolívia vão se submeter amanhã a um referendo de confirmação de mandato que o presidente convocou em uma tentativa de minar os governadores oposicionistas e tirar força dos movimentos pró-autonomia da região leste do país.

Para conseguir superar esse desafio, o aimara Morales, um líder dos plantadores de coca de 48 anos, conta com o amplo apoio de setores indígenas do altiplano andino que deve assegurar sua ratificação confortável no gabinete.

Mas alguns perigos espreitam: a oposição se estendeu a seis dos nove departamentos da Bolívia sob a liderança de Santa Cruz, um próspero departamento que produz 30% do PIB do país e que tem rejeitado desde o início o projeto estadista do presidente indígena.

Seus adversários direitistas continuam tentando bloquear suas reformas de cunho socialista e a votação de amanhã deve intensificar ainda mais a crise política instalada no país mais pobre da América do Sul.

Intransigência

Analistas consideram como um fator importante da grave crise boliviana a posição de Morales de que seu projeto político não pode e nem deve ser negociado com ninguém. Essa característica já lhe causou problemas com a oposição, mas também com suas próprias bases.

O dirigente nacionalizou empresas de energia, de mineração e de telecomunicações além de estar distribuindo, na forma de repasses, parte do faturamento delas para as camadas mais baixas da população.

Morales ainda tenta aprovar uma nova Constituição que dará mais poder aos bolivianos de origem indígena, maioria no país, e que conta com grande apoio dos grupos étnicos aimará e quechua.

O cocaleiro chegou à Presidência em janeiro de 2006 com esmagadores 54% de votos em um país de mais de 9 milhões de habitantes, onde 60% da população é de etnias nativas.

Homem de esquerda que se autodefine como "antiimperialista" e como um "índio feio", Morales converteu-se em líder político dos cultivadores de coca do Chapare, epicentro das lutas sociais bolivianas, e do combate ao narcotráfico entre 1988 e 2002.

O presidente boliviano pode realmente ficar mais forte depois do referendo, especialmente se alguns dos governadores da oposição forem derrotados. Mas à votação podem se seguir manifestações, e ele ainda terá de negociar com seus adversários.