Título: STF sob ameaça
Autor: Carneiro, Luiz Orlando ; Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2008, País, p. A10

Funcionários do gabinete de Gilmar Mendes passam mal ao respirar pó de correspondência

Luiz Orlando CarneiroMárcio Falcão

BRASÍLIA

Dois funcionários do gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, encarregados de verificar sua correspondência, sentiram-se mal, às 17h45 de ontem, ao respirar um pó branco que estava dentro do envelope de uma carta com ameaças ao ministro, e exalava forte cheiro. O terceiro andar do prédio principal do STF, onde fica o gabinete da Presidência, foi esvaziado, e a Polícia Federal acionada. A carta e o pó foram recolhidos para perícia pelos policiais.

Ainda ontem, por volta das 17h, houve uma ameaça anônima de que haveria uma bomba no subsolo do Anexo II do STF, onde se situam os gabinetes dos demais ministros e os plenários das turmas do tribunal. Varredura feita pela segurança do tribunal nada encontrou. Uma ameaça do mesmo tipo ¿ também considerada trote ¿ ocorreu há 15 dias.

Um carro blindado do Batalhão Anti-Bombas, que foi usado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça durante os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, chegou a ser enviado ao STF.

O ministro Gilmar Mendes participou, normalmente, da sessão plenária de ontem, até as 16h ¿ portanto antes das ocorrências. Ele passou a presidência para o vice, ministro Cezar Peluso, já que tinha de dirigir-se ao aeroporto, a fim de embarcar para São Luiz, para cumprir agenda oficial.

Os funcionários da presidência do STF (Aneline e Jorge Santa Rita) que abriram o envelope contendo pó com cheiro de inseticida foram atendidos por médica da Secretaria de Serviços Integrados de Saúde do tribunal, e passam bem. Segundo relatos dos funcionários, não houve tumulto durante a saída do local. Ainda não se sabe se a origem do pó e tampouco se ele é prejudicial à saúde. Os policiais que participaram da varredura no STF deixaram o prédio carregando três sacos plásticos com material recolhido para análise.

Alerta

A ameaça de bomba e o pó branco repercutiram no Congresso. Para senadores e deputados, ainda que o episódio fique comprovado como uma brincadeira é preciso se rediscutir medidas de segurança aos ministros para evitar que situações como esta virem rotina. Na avaliação dos parlamentares, uma intimidação desta forma pode ser motivada por insatisfação diante de algum julgamento proferido pela Corte ou até mesmo para confirmar a intenção de possíveis ataques.

¿ Qualquer ameaça, sendo brincadeira ou não, ou agressão a uma autoridade é um ato gravíssimo que merece atenção de todas as instâncias ¿ afirma o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). ¿ Não se pode protestar desta maneira. Vivemos em um estado de direito. Agora, se a ameaça for real, é preocupante porque estamos entrando na era do terrorismo.

O senador Magno Malta (PR-ES) segue o discurso de Demóstenes e não descarta uma possível ameaça do narcotráfico. Malta, chega a defender que deve-se pensar em uma lei de exceção para o país, se não nos próximos 15 anos as autoridades brasileiras já não poderão mais ter segurança de andar nas ruas.

¿ Vamos aguardar as investigações, mas de qualquer maneira já foi um alerta ¿ declarou o senador. ¿ As autoridades brasileiras precisam levar a sério esta discussão e estabelecer um cerco ao narcotráfico, com prisão perpétua, proibição de visita íntima, de advogados particulares. Se não, em 15 anos, não haverá sossego neste país.