Título: Olimpíada diplomática de Pequim
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/08/2008, Economia, p. A18

Autoridades aproveitam abertura dos Jogos para discutir como reavivar as negociações comerciais

Reuters

Autoridades do setor comercial prevêem que os Jogos Olímpicos servirão como veículo para alguns contatos diplomáticos para tentar ressuscitar a Rodada Doha. Estão em Pequim, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vários outros líderes, entre os quais o presidente dos EUA, George W. Bush.

Lula disse ontem que conversou com o presidente chinês, Hu Jintao, sobre retomar as negociações para a conclusão da Rodada de Doha de abertura comercial. Lula já havia falado com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, domingo, sobre a mesma questão.

Para o presidente brasileiro, se o diálogo não for recuperado nos próximos meses, a rodada poderá ficar empacada por pelo menos quatro anos.

¿ Estava tudo certo para ser concluído, até que houve impasse entre Estados Unidos e Índia. Estávamos tão perto depois de sete anos de negociação e não é possível morrer na praia depois de se ter nadado tanto ¿ disse Lula. ¿ Se a gente não retomar isso, se não chegarmos a um acordo nos próximos meses isso pode demorar mais quatro, cinco anos e será um prejuízo enorme.

Lula, que está em Pequim para a abertura dos Jogos Olímpicos, falou para jornalistas na Vila Olímpica que vai tentar falar com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh hoje.

Sobre a postura da China nas conversas sobre Doha em Genebra, Lula disse que o país já havia feito concessões para entrar para a Organização Mundial do Comércio (OMC) e que não poderia aumentá-las muito.

No momento em que se iniciam os esforços para salvar do fracasso total as negociações sobre o comércio mundial, especialistas afirmam que a primeira coisa a fazer é esclarecer a confusão em torno de um instrumento de proteção a agricultores que acabou por ser determinante na suspensão da rodada mais recente de diálogos.

Segundo Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), as negociações que buscavam, em meio à Rodada Doha, fixar novas regras para o comércio de produtos agrícolas e industrializados haviam conseguido resolver 90% da agenda.

Para muitos integrantes da OMC, seria frustrante jogar tudo isso fora por causa de uma desavença em torno de um detalhe técnico, ainda assim importante para ajudar os agricultores pobres a protegerem-se da eventual invasão de produtos importados.

Proposta sobre a mesa

Warren Maruyama, uma importante autoridade da área de comércio dos EUA, disse na quarta-feira que os desentendimentos entre os EUA e os grandes países emergentes como a Índia e a China eram complexos demais para serem resolvidos rapidamente e que não havia por que reunir novamente os ministros de diferentes países enquanto questões como a do mecanismo de proteção não forem resolvidas.

No entanto, diplomatas do setor comercial apontam para vários fatores que sugerem a retomada, em breve, da Rodada de Doha, mesmo que um acordo final tenha de esperar até depois das eleições presidenciais nos EUA: a chefe da área de comércio dos EUA, Susan Schwab, sublinhou, depois do colapso das negociações, que a oferta norte-americana continuava sobre a mesa. Os países-membros da OMC evitaram trocar acusações, mantendo a atmosfera diplomática desimpedida para a realização da próxima manobra. A Índia, que lutou acirradamente em defesa de mais salvaguardas para seus agricultores, precisa de um acordo na Rodada de Doha a fim de que essa medida comece a vigorar.

E Lamy pode reavaliar as posturas norte-americana e indiana ao visitar Nova Délhi, na próxima semana, e Washington, na semana seguinte.