Título: A violência que paralisa a sociedade
Autor: Moura, Júlia
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2008, Cidade, p. A13

Pesquisa mostra que mais de ¼ da população do Rio já foi vítima de algum tipo de crime.

Mais de ¼ da população carioca já sofreu algum tipo de crime nos últimos cinco anos, de acordo com a pesquisa Condições de Vida e Vitimização, realizada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), e divulgada ontem no Rio. A taxa de vitimização (prevalência) é de 26% na Região Metropolitana do Rio no período de 12 meses, entre 2006 e 2007. Entre os crimes mais sofridos estão o estelionato, com 8,3%, e a ameaça e agressão, com 7,1%. ­

-Em um ano, a vitimização na cidade do Rio supera a de um país europeu em cinco anos ­ concluiu o sociólogo Michel Misse.

Para o sociólogo Gláucio Soares, a população carioca está envolvida pelo sentimento do medo. Das 4.553 pessoas entrevistadas, 75 mil domicílios da Região Metropolitana, 65,1% se sentem muito inseguros em bairros desconhecidos mesmo durante o dia, e 84,6% têm o mesmo sentimento em bairros desconhecidos à noite. ­

-Há um medo do desconhecido. Quanto mais distante do bairro em que mora maior é o medo. O direito à segurança é um direito essencial. Eu tenho direito de não ter medo. Esse direito requer cidadania ativa -­ avalia Gláucio.

Apenas 6,9% da população estimada confiam totalmente na Polícia Militar, enquanto a maioria, 56,1%, não confia. Quando se trata da Polícia Civil, a população avaliou ter um grau de confiança maior do que a da PM, porém o índice de pessoas que não confiam na polícia Civil é alto, com 42,9%. ­

-Existe um grande número de pessoas que não confiam na PM mas acho que isso não pode ser um fator desestimulante. As corporações devem juntar esforços para conquistar a confiança da população ­ disse Mário Sérgio Duarte, coronel da PM e presidente do ISP.

Os grandes medos dos entrevistados estão relacionados às armas de fogo: 57% temem ser vítimas de bala perdida em seus bairros e 43,5% temem estar em meio a um tiroteio. Apesar da falta de confiança nos policiais e dos temores, poucos gastam com segurança própria, como troca de fechaduras e câmeras de vigilância. A maior parte dos entrevistados (80,1%) afirmou não ter este tipo de gasto.

Gláucio Soares explica que o medo de alguns crimes não significa que eles sejam os mais freqüentes ­ As pessoas têm medo de latrocínio e de bala perdida, mas não são causas mais freqüentes de morte violenta. Baixar a impunidade baixa o crime, mas não reduz a sensação de insegurança a curto prazo.

Roubos e furtos

Entre as pessoas vítimas de crimes entrevistadas, 78,7% tiveram o carro roubado nos últimos cinco anos. O furto de veículo também assusta. Entre os vitimizados, diz o estudo, 70% já tiveram algum item do carro furtado.