Título: CNBB defende o modelo da reserva
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/08/2008, País, p. A12
Entidade quer que Supremo mantenha decisões de Lula e FHC.
BRASÍLIA
A menos de uma semana do julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se manifestou, ontem, a favor da homologação contínua das terras.
O presidente da entidade, dom Geraldo Lyrio Rocha, disse que será um "retrocesso" e um "absurdo" se o STF não mantiver a decisão do governo de homologar as terras de forma contínua.
- Depois da luta de tantos anos dos índios que reivindicam o reconhecimento das terras, voltar atrás é um absurdo porque seria um retrocesso imenso e um prejuízo extraordinário para os povos indígenas que vivem na região afirmou.
Dom Geraldo defende que o STF mantenha as decisões dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva que demarcaram e, posteriormente, homologaram as terras da Raposa/Serra do Sol de forma contínua. Na opinião do bispo, a demarcação por "ilhas", como defendem os arrozeiros que vivem na região, vai impedir que os índios tenham assegurados o direito constitucional de usufruto das terras.
- A Constituição prevê que os índios têm usufruto exclusivo das terras e riquezas dos solos argumentou Essas terras são patrimônios da União, mas aos índios é concedido o seu usufruto.
Soberania O bispo rebateu os argumentos de que a demarcação contínua poderia trazer prejuízos à soberania nacional ou colocar em risco as fronteiras do norte do país, em Roraima.
- Grande parte das nossas fronteiras contam com a presença dos povos indígenas e nunca houve problemas com nações vizinhas.
Para o vice-presidente da CNBB, dom Luiz Soares Vieira, a demarcação em "ilhas" poderá impor a dominação dos não-indígenas às etnias que vivem na reserva.
- Essa experiência de ilhas tem sido muito ruim explicou. Os índios têm as organizações deles, mas os brancos devagar se apossam das terras e corrompem os índios. Precisamos dar esse espaço para eles.
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O bispo defende que o governo, a exemplo do que fez com fazendeiros da região, pague indenização aos arrozeiros para que deixem a reserva - caso o STF determine a homologação contínua.
Dom Luiz afirmou que a posição da Igreja Católica em defesa da demarcação contínua não tem relação com a sua presença na região.
- A Igreja não tem nada em nome dela nessa área, é tudo dos índios - declarou.
O secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, disse esperar que a decisão do STF seja recebida de forma pacífica pelos indígenas e arrozeiros da reserva.