Título: Consórcio teria pagado assassinato
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, País, p. A7

A Polícia Federal procura por cinco pessoas que teriam participado de um ''consórcio'' com a finalidade de arrecadar os R$ 50 mil prometidos aos pistoleiros contratados para matar a freira Dorothy Stang, assassinada no dia 12, em Anapu, PA.

Ontem, após acareação entre três acusados já presos pelo crime, o promotor estadual Sávio Brabo disse que está sendo investigada a existência de um ''consórcio'' para matar a irmã Dorothy formado por ''pessoas interessadas em não perder a terra e suas riquezas''.

As cinco pessoas procuradas pela PF são madeireiros, grileiros e fazendeiros. Um deles é Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, que é acusado de ser o mandante do assassinato e já vinha sendo procurado desde o início das investigações.

Segundo a PF, Bida ratearia o valor do pagamento com pelo menos mais quatro pessoas, mas o dinheiro não chegou a ser pago. Dois dos três indiciados dizem ter recebido apenas R$ 50 para fugir após o crime.

Os suspeitos de participar do consórcio se dizem proprietários de terras que seriam desapropriadas para implantar o PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) Esperança, assentamento em que Dorothy Stang estava envolvida.

Dos 61.191 hectares da área total do PDS, 34 mil estão sendo disputados entre os madeireiros, fazendeiros e grileiros - que se dizem proprietários - e os assentados. A notícia de que a área seria desapropriada pelo Incra foi levada por Dorothy Stang aos sem-terra e assentados na véspera de sua morte e teria motivado o crime.

Um dos supostos consorciados esteve no dia 12 em Anapu e fugiu após o crime, deixando as roupas e documentos em um quarto de hotel da cidade. Outro que está sendo procurado pela PF seria um madeireiro que explora ilegalmente áreas do PDS Esperança.

A versão do consórcio surgiu durante o depoimento de Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, acusado de ser um dos pistoleiros. Ele disse que, depois de o crime ter sido executado, Bida teria oferecido R$ 10 mil para dividir entre ele e o outro suposto pistoleiro, Clodoaldo Carlos Batista, conhecido como Eduardo, mas Rayfran não teria aceitado e Bida disse que pagaria depois.

- O consórcio é uma possibilidade que a PF trabalha porque o valor oferecido pela morte é considerado alto para os padrões da região. Acreditamos que de cinco a dez pessoas teriam participado desta divisão - explicou Ualame Machado, delegado federal que preside as investigações em Anapu.

Para o delegado, se o consórcio for confirmado, Bida pode estar correndo risco:

- Ele corre risco de ser morto como queima de arquivo.