Título: Especialista associa pré-sal à miséria
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2008, Economia, p. A17

Professor de Harvard aconselha cautela no planejamento das ações de exploração.

SÃO PAULO

Desconfiança. Esta foi a tônica da avaliação do economista e professor Ricardo Hausmann em relação ao custo e ao tempo necessários para a exploração do petróleo brasileiro na camada do pré-sal. Durante o seminário Diagnóstico da Crise Brasileira, promovido pelo Ibmec São Paulo, o ex-coordenador dos economistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, explicitou seus temores em relação à avidez na exploração do potencial offshore.

¿ É muito fácil criar miséria com o petróleo. Já vi este filme ¿ diz o ex-ministro da Coordenação e Planejamento da Venezuela nos anos 90. ¿ A exploração do pré-sal vai custar uma tonelada de dinheiro, recursos que vocês não têm. E vai levar um tempo enorme, a partir de 2015 talvez se comece a ter alguma notícia de retorno.

Hausmann, professor de Harvard, veio ao Brasil como convidado do Centro de Liderança Política do Ibmec São Paulo, onde apresentou diagnóstico econômico do Brasil, intitulado Em busca das correntes que seguram o Brasil.

Emprego

¿ O pré-sal requer somas milionárias para sua exploração e é um recurso extremamente volátil. Justamente por esta característica acabou determinando, em muitos países, fortes oscilações da moeda local, num sobe e desce muito perigoso. Um dos setores mais vulneráveis nestas flutuações é o mercado de trabalho. O petróleo pode destruir o emprego nacional ¿ diz Hausmann, que questiona a origem dos recursos para a exploração petrolífera. ¿ O problema agora é como o Brasil vai financiar estas perfurações, de onde virá este dinheiro?

O especialista lembra que o petróleo é um ativo que chega ao fim algum dia.

¿ Os países que se concentraram só nesta exploração, acabaram percebendo que seria necessário ter alguma outra opção de ativo. É preciso que o Brasil acumule outro, prevendo o esgotamento desta fonte.

Um dos pontos mais ressaltados pelo especialista é a necessidade do Brasil aprender com as experiências da Finlândia e da Noruega. No caso da Finlândia, a economia ganhou novo impulso pelo comércio de madeira, que propiciou o desenvolvimento de máquinas que processavam e automatizavam o processo extrativista.

¿ Em um determinado momento, a Finlândia se perguntou, para quê cortar árvores, a saída é comercializar a tecnologia acumulada ao longo da história da indústria madeireira ¿ diz Hausmann.

Noruega

Já o caso da Noruega lembrado pelo professor venezuelano, aponta toda a tecnologia desenvolvida para estabelecer e otimizar a comunicação ao longo do processo de exploração de petróleo em grandes profundidades.

¿ Depois, a questão para os noruegueses era o que fazer com aquela tecnologia de informação, assim nasceram gigantes como a Nokia.

Em sua análise, o professor de Práticas de Desenvolvimento Econômico em Harvard apontou os mais relevantes entraves para um maior desenvolvimento do país: infra-estrutura deficiente, falta de qualificação da massa trabalhadora e poupança interna minguada. Como remédio, Hausmann prega a diminuição do raio de ação do Estado ¿ com redução do consumo público e de pensões ¿ em favor da iniciativa privada e melhor alocação da receita tributária.

¿ O Brasil tem um pé no acelerador e outro no freio, tirem o pé do freio ¿ diz ele, referindo-se ao breque da taxa Selic.