Título: Sem Doha, Brasil ataca os Estados Unidos na OMC
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 23/08/2008, Economia, p. A18

BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, informou que o governo brasileiro decidiu notificar a Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre o direito de retomar o processo retaliação econômica contra os subsídios dos Estados Unidos concedidos os produtores de algodão.

Até então, havia uma esperança de o problema ser resolvido dentro da Rodada de Doha, porém as negociações fracassaram, o que fez com o Brasil voltasse a pedir o processo de arbitragem do valor das sanções à OMC para ser aplicado aos Estados Unidos.

¿ Se não fizéssemos isso, estaríamos dando sinalização equivocada ¿ disse o chanceler ontem, afirmando que o pedido seria encaminhado a Genebra. Sem citar o valor das sanções a serem aplicadas ao algodão americano, Amorim declarou o processo de abertura do comitê na OMC deve levar 60 dias.

Etanol

Ainda durante conversa com jornalistas no Itamaraty, na tarde de sexta-feira, Amorim avisou que o governo brasileiro estuda abrir processo, também, contra a política de proteção ao etanol americano. Entretanto, Amorim assegurou que o governo brasileiro buscará solucionar o problema dos subsídios do algodão por meio de negociações com o governo americano.

A queda-de-braço entre o Brasil e os Estados Unidos em relação ao apoio financeiro concedido aos produtores de algodão vem desde 2004, quando o governo brasileiro obteve sucesso no Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) da OMC, que suspendeu os subsídios do Estados às exportações de algodão. Mas os Estados Unidos não têm cumprido o acordo totalmente. Em junho, a OMC confirmou que o governo americano não havia suspendido a subvenção ao algodão.

O ministro disse, ainda, que se abriu uma "fresta" de oportunidades para a retomada das negociações da Rodada Doha. Ele informou que tem conversado com ministros de comércio exterior de vários países e assegurou que existe "um desejo de se discutir a inconformidade com a paralisia de Doha".

Apesar disso, Amorim afirmou que o governo brasileiro continua interessado nas negociações bilaterais com a União Européia no setor agrícola, que segundo ele, talvez tenha sido o setor que impediu o avanço das negociações em Doha.

¿ A gente não pode saber (o que vai acontecer) sem testar ¿ disse ao ser questionado se o governo brasileiro não temia uma possível derrota, já que as negociações de Doha não avançaram.