Título: As idas e vindas dos técnicos no Brasil
Autor: Freitas Jr., Osmar
Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2008, Economia, p. E4
NOVA YORK
O Brasil nasceu com dívidas. O primeiro empréstimo feito pelo país data da época colonial. De lá para cá, ele agiu como o cunhado que vive mordendo parentes e vizinhos, bancos e a mercearia. O buraco maior nas contas, porém, entrou em fase de escavação industrial mesmo em 1983, com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Durante o governo militar, com a primeira Crise do Petróleo, em 1973, as contas foram adquirindo tons escarlates. Brasília foi ao Fundo em 1982, para enfrentar os tempos bicudos. Não se sabia que o bico, no caso, seria maior do que a criatura.
Deu-se a primeira invasão dos técnicos do FMI para monitoramentos e aconselhamentos e ajustes doloridos na economia. Seguiram-se novos empréstimos e rolagens da dívida, até 1985, quando a instituição de Washington suspendeu a ajuda, por descumprimento de metas.
Novo acordo só chegou em 1986, com um pacote de empréstimo de US$ 1,4 bilhão, dos quais o tesouro brasileiro só veria US$ 477 milhões. O destino deste acerto foi o ralo da insolvência, com a decretação de moratória unilateral, em 21 de fevereiro de 1987. Entrava neste embrulho não apenas a dívida do Fundo, mas também dos bancos privados. Repetia-se o que o país havia feito em 1937.
As negociações eram doloridas. Os correspondentes brasileiros que acompanharam as peregrinações de embaixadores negociadores da dívida com bancos privados ¿ realizadas na sede do CityCorp, na Lexington Avenue em Manhattan, lembram dos dramas, e de uma história em particular.
Negociador brasileiro
O então negociador Pedro Malan, em 1993, chegou para tentar mais um acordo. A tradição era a do devedor pagar o almoço para os credores. Na hora do acerto da conta do primeiro rebu com Malan, o negociador reuniu todas as notas e dividiu entre o grupo de modo democrático. Cada um pagou seu sanduiche, pizza e Coca-Cola.
Com o FMI a regularização do crédito só chegaria em 1994. Isso depois da chamada crise asiática de 1992, quando o sistema financeiro brasileiro foi salvo por pacote especialmente amarrado pelo presidente americano Bill Clinton- com a aprovação do Congresso americano ¿ e entregue ao destinatário pelo Fundo Monetário Internacional. Neste caso, Brasília cumpriu as metas e pagou de volta a ajuda.
Dívida quitada
E em 2005, já no governo Luiz Inácio Lula da Silva, US$ 15,5 bilhões que ainda estavam pendente na caderneta do FMI e só venceriam em 2007 foram pagos. O então ministro da Fazenda Antônio Palocci assegurou que a nação economizaria US$ 900 milhões em juros.
Teria sido final feliz, caso o Brasil ainda não tivesse US$ 4,3 bilhões em dívida externa (dado de 2007). E mais US$ 1,2 trilhões de dívida interna, com prazo de pagamento até 2045.