Título: Países sócios fecham as contas ao Fundo
Autor: Freitas Jr., Osmar
Fonte: Jornal do Brasil, 24/08/2008, Economia, p. E4

A reportagem do semanário Der Spiegel pode ter causado hilaridade, mas estava correta em seus mínimos detalhes. De fato, todos os países sócios do Fundo Monetário Internacional deveriam, por força de acordo, ter suas finanças monitoradas. Os EUA não poderiam ser exceção. O Canadá anunciou com certa fanfarra ter sido o primeiro país membro do G-8 (o grupo dos países mais ricos), a passar pelo Financial Sector Assessement Program (FSAP) ¿ o programa piloto do FMI de verificação das grandes economias.

O próprio presidente George W. Bush, ainda que resmungando, deu o sinal verde para a verificação dos orgãos do setor econômico, inclusive os dados confidenciais. Exigiu que os resultados das análises só fossem divulgados depois de empossado o próximo presidente. Ficou combinado que o relatório sairia em 2010, quando Bush estará tranquilo em seu refúgio privado em Crawford, no Texas.

Com a posse do novo presidente, seja ele John McCain ou Barack Obama, esta autorização, de final de mandato Bush, deve ser retirada.

¿ Já posso adiantar, sem saber quem será o secretário do Tesouro de Barack Obama, que os democratas não vão permitir este monitoramento do FMI ¿ diz secamente o senador democrata por Nova York, Charles Schumer. E seu colega republicano no Senado, John Kyl, do Arizona, vai além:

¿ John McCain não é grande fã do FMI. Ele é bem capaz de forçar uma reestruturação da instituição. O que já passou da hora de acontecer. McCain não vai permitir este tipo de ingerência no setor econômico dos EUA, e o Congresso, que autoriza isso, também não concordará.

O Brasil do presidente Lula permitiu que, em julho, comissão do Fundo fosse verificar in loco as contas da casa. Logo após a visita, o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, causou certo frisson ao declarar que os países emergentes necessitavam de um aperto monetário para combater a inflação. Foi corrigido por Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor-executivo do FMI, economista representante brasileiro no Fundo.

¿ Não acho que ele estivesse se referindo ao Brasil quando falou em aumento de juros ¿ disse. ¿ No Brasil os juros reais eram dos mais altos do mundo, mesmo antes da última elevação da Selic.

É uma evidência de que, até mesmo em termos de planos pilotos de monitoramento, quando o FMI fala, ninguém mais obedece.