Título: A opção Cesar Maia
Autor: Jorge Bornhausen
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Outras OPiniões, p. A11

Antes que venha a pergunta - por que Cesar Maia? - arrisco-me a seguir uma velha e bem sucedida tática do sábio (e também bom político, diplomata e publicista americano) Benjamim Franklin, que periodicamente imprimia uma declaração sobre temas que fatalmente lhe seriam propostos. E evitava o risco de respostas improvisadas.

Desdenhada inicialmente, pelos escrúpulos da mídia de não parecer promotora de ''balões de ensaio'', o lançamento do prefeito do Rio, Cesar Maia, como candidato oposicionista à Presidência da República nas eleições de 2006 ficou no limbo. Até que as primeiras pesquisas viraram o jogo. Não dá para torcer o nariz para um nome que alcança 5% de intenções de voto, estreando, sem qualquer preparação, na lista de possíveis candidatos.

A hora, portanto, é oportuna para uma antecipação sobre Cesar Maia, o sentido da sua candidatura e a oportunidade do lançamento. Pelo que, peço a palavra.

A oposição, de que o PFL é acionista pioneiro, pois consideramos ter recebido em 2002 um mandato popular para representar uma alternativa democrática ao PT, nosso antípoda ideológico, enfrenta sério problema competitivo. Um presidente da República candidato à reeleição tem a seu favor os instrumentos do poder (a instituição humana mais próxima da idéia de onipotência) e é dia e noite lembrado e visto. Já o candidato da oposição leva uma desvantagem considerável, pois tem que se fazer conhecido, quando o adversário, candidato à reeleição, nada de braçada na mídia.

Foi com esses argumentos que abrimos um debate interno para escolha antecipada do nosso candidato. Cesar Maia tornou-se uma unanimidade, especialmente quando obteve a consagradora reeleição para prefeito do Rio de Janeiro. Seu nome promoveu a superação de antigas divergências internas, criando-se um clima de união, típico pregoeiro de sucesso eleitoral.

Tenho uma longa experiência político-eleitoral e raramente senti, tão cedo e de forma tão firme, a percepção da viabilidade de uma candidatura e a adesão tão firme da base partidária. A conjunção desse binômio é mais que um presságio, pois funciona como imã de adesões externas.

Também a vitrine carioca da administração de Cesar Maia ajuda. Por exemplo, as contas ajustadas. Um quadro oposto ao descalabro petista de dona Marta, em boa hora posta a correr pelos paulistanos. Outro exemplo, o Favela Bairro, programa social sem paternalismos, que eleva os cidadãos a partir da integração comunitária e chega a propiciar até títulos de propriedade das suas modestas habitações. Sem falar do perfil pessoal de democrata de Cesar, perseguido e exilado, mas de um idealismo conseqüente.

Em janeiro, passei três dias no Rio, e só ouvi elogios à sua administração. Também registrei que suas chances de chegar à Presidência da República não passam desapercebidas aos cariocas: ''Quem sabe se um presidente nascido no Rio, com a coragem e disposição do prefeito, não conseguiria organizar o combate a violência e vencer essa guerra urbana que enfrentamos!'' Faz sentido uma aposta na capacidade de um presidente carioca mobilizar meios que até hoje faltaram à luta contra o crime.

Mas sua melhor qualidade como candidato é oferecer a expectativa mais ansiada hoje no Brasil: a ruptura com a estagnação econômica, ao conformismo que nos faz celebrar números medíocres de crescimento como se não tivéssemos a vocação e as condições das demais nações. Por que o Brasil não vai além de 50% do que conseguem nossos assemelhados, como a China, Índia, Coréia? Contido, discreto, recusando-se a prometer prodígios, vale a pena ouvir a indignação de Cesar Maia com a falta de ousadia, criatividade, coragem e, até, a mais elementar competência gerencial da política econômica atual.

Nas eleições de 2006 o Brasil vai decidir se continuaremos lutando pela estabilidade da moeda, como se isso fosse um fim (como faz o medíocre governo Lula) ou se exigimos crescimento econômico, gerando empregos. Por isso é preciso que o candidato da oposição tenha espaço e audiência, seja conhecido e identificado, transforme-se em opção. César Maia não está madrugando, está tentando ser competitivo, tornar-se o rosto e identidade das propostas de mudanças, já que o PT, que as prometia, estacionou o País no passado. E bote passado nisso.