Título: Vítima evitava sair à noite
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Rio, p. A14

Para se preservar de atentados, o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho evitava andar à noite pelas ruas do Tinguá. O caminho até a sua casa era ermo, por isso, segundo seus amigos, ''Seu Júlio'' preferia a luz do dia. Sargento reformado da Polícia Militar, o ambientalista - que participou da criação da reserva em 1989 - era considerado pelos ambientalistas locais uma pessoa destemida, apesar das ameças de morte. - Na noite da emboscada, ele não teve chances de se defender - lamenta o ambientalista Elton Medeiros.

Conselheiro fiscal do Grupo de Defesa da Natureza (GDN), o ambientalista também já foi funcionário do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Na ONG, ele trabalhava como voluntário. Há pelo menos 10 anos, segundo amigos, ''Seu Júlio'' começou a receber ameaças. Nessa época, sua família se mudou para Guadalupe. Algum tempo depois, a mãe do ambientalista foi morar em Tinguá, onde viveu com filho até a sua morte, recentemente. Dionísio costumava receber a visita da filha de 19 anos.

- A vida dele era no Tinguá. Dificilmente ele se mudaria - assegura Hélio Vanderley Coelho Filho, subsecretário de Gestão Financeira de Nova Iguaçu.

Envolvido com projetos sociais, o ambientalista estava ajudando a Cruz Vermelha a levar informações sobre doenças à comunidade de Tinguá. Pelos vizinhos, Dionísio era considerado discreto. Era maratonista, não bebia nem fumava.

- Fiquei surpreso em saber que ele estava sendo ameaçado. Sabia que ele reprimia os palmiteiros, mas nunca disse que estava sendo ameaçado - conta um vizinho.

Segundo o agente florestal Márcio Castro das Mercês, o medo de morrer está presente entre todos os ambientalistas.

- Se por um lado a riqueza da reserva é infinita, por outro os arredores são muito pobres, o que acaba gerando palmiteiros e caçadores - diz Mercês.

A reserva do Tinguá tem 26 mil hectares. A área de entorno é de 500 mil quilômetros quadrados. Segundo ambientalistas, menos de 10% da flora foi mapeada. A reserva do Tinguá fornece água para 4 milhões de pessoas na Zona Norte e na Baixada.