Título: Polícia Federal sabia de ameaças
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Rio, p. A15

Equipe que investigou extração irregular na reserva do Tinguá foi afastada; denúncias de ONGs acabam engavetadas

Há pelo menos seis meses a exploração irregular de palmito na reserva de Tinguá em Nova Iguaçu, é de conhecimento da Polícia Federal, no Rio. Com base em denúncias feitas por integrantes de organizações não-governamentais, um levantamento foi iniciado por policiais da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico (Delemaph), mas foi interrompido pela mudança da equipe, realizada no fim do ano passado. As denúncias caíram no vazio e não foram apuradas pela nova equipe. De acordo com policiais federais, 90% das denúncias feitas sobre a extração de palmito se concentravam na atuação do grupo criminoso em Tinguá. Os relatos de ambientalistas dão conta de que policiais militares dariam proteção à exploração. Armados, eles se aproveitariam da própria floresta, que é de difícil acesso, para afastar policiais e inspetores do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

Em um dos casos que chegou à Polícia Federal, servidores do Ibama foram afastados a tiros da área de exploração. Os servidores contaram aos policiais que não sabiam de onde viriam os disparos. A delegacia de Meio Ambiente da Polícia Civil e a 58ª DP (Posse) também receberam informações sobre o assunto. Além da presença de policiais no grupo, PMs da região saberiam da extração e não teriam tomado qualquer providência.

- Iniciamos um levantamento em que percebemos a dificuldade de uma operação na área. A mata é muito fechada e fica muito difícil colocar alguém lá dentro. Por isso, invertemos o foco da investigação. Passamos a tentar descobrir para quem eram vendidos os palmitos. Sem comprador não haveria a exploração. Mas aí, a nossa equipe foi removida - lamentou o delegado Antônio Rayol, atualmente de férias e ex-titular da Delemaph.

Rayol e sua equipe foram responsáveis pela descoberta de uma rinha de galo, na Zona Oeste, em que foram presos o publicitário Duda Mendonça e o vereador Jorge Babu. Todos foram afastados em dezembro quando indiciariam outras pessoas pelo envolvimento na rinha. O delegado Deuler da Rocha Gonçalves Júnior substituiu Rayol no cargo.

Ele não foi encontrado ontem para comentar a morte do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro ou a exploração de palmito. Informações na Polícia Federal dão conta de que o delegado está no Pará auxiliando nas investigações da morte da missionária americana Dorothy Stand, assassinada há duas semanas.

O biólogo Mário Moscatelli lamentou ontem o ocorrido e disse que o Exército deveria participar da conservação.

-Eu peço intervenção das forças armadas para proteger as UCs (Unidades de Conservação) há muito tempo. Se não conseguem gerenciar um pedacinho de terra que é a reserva de Tinguá, como vão gerenciar a Unidade de Conservação da Terra do Meio, no Pará, que é do tamanho de um estado? - questionou.