Título: Imposto é inimigo número 1
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Economia, p. A17

Cresce na indústria preocupação com peso dos tributos, mesmo após sexto aumento consecutivo da taxa Selic

Nem a sexta alta consecutiva da taxa básica de juros fez a insatisfação com a Selic se sobrepor às preocupações com os impostos por parte do setor produtivo. Pelo contrário, entre 2004 e 2005, houve redução de empresários reclamando da política monetária e aumento dos que se queixam da carga tributária. Cerca de 58% dos consultados pela Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas reclamam em primeiro lugar dos impostos, contra 23% das empresas que apontaram a trajetória de alta da Selic como a maior barreira ao crescimento. A pesquisa foi realizada em 599 empresas. Em 2004, juros e carga tributária haviam sido citados como maiores problemas respectivamente por 25% e 56% dos empresários.

A mudança ocorre em meio à trajetória de alta nos juros, retomado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), retomada em setembro. Em seis meses, a Selic foi elevada de 16% para 18,75% ano ano, processo que, segundo especialistas, poderá arrefecer o crescimento industrial ao longo deste ano, impedindo-o de repetir o avanço de 8,3% na produção registrado em 2004.

As limitações provocadas pela falta de infra-estrutura aparecem em terceiro lugar no ranking dos principais obstáculos ao crescimento. Mas é a insatisfação que mais cresce no meio empresarial: a parcela dos que se queixam da infra-estrutura saltou de 4% para 10% entre um ano e outro.

O maior temor da indústria no que diz respeito ao estrangulamento na capacidade de produção está na categoria de bens intermediários. Para 43% das empresas consultadas nesse setor pela Sondagem da Indústria de Transformação da FGV, haverá limitações de produção nos próximos dois anos. Desse total, 30% responderam que isso poderia acontecer em três meses. No setor metalúrgico, 65% apostam em esgotamento da capacidade neste ano. Segundo o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo, o resultado mostra que a possibilidade de esgotamento está circunscrita a setores influenciados por altas de commodities, como o aço.

Já no setor de materiais de construção, 39% das empresas afirmam que a capacidade instalada será extrapolada a partir de 2007. Entre os produtores de bens de capital e de bens de consumo, os percentuais são, respectivamente, de 18% e 12%.

Apesar do temor com a alta carga tributária e a taxa de juros, o otimismo da indústria brasileira neste ano é comparável ao entusiasmo do período que se seguiu ao Plano Cruzado, em 1986, quando a sociedade apostava no fim da inflação de dois dígitos. A Sondagem da FGV mostra que os investimentos em curso na indústria vão aumentar em 8% a capacidade de produção do país neste ano. E que o empresário brasileiro sinaliza manutenção dos elevados níveis de investimento que marcou 2004.

- Aumentar em 8% a capacidade instalada enquanto a previsão de crescimento do PIB é de 5% é a melhor prova de que as empresas vão continuar investindo e aumentando produção - comenta Aloisio Campelo, coordenador da pesquisa da FGV. - A taxa que melhor retrata o otimismo das empresas é a perspectiva de ampliação e investimentos para o triênio. Não podemos comparar com exatidão, mas pela magnitude das taxas, a previsão de aumento da capacidade é comparável ao que houve entre 1986 e 1987 - afirma.

O economista aponta que a expectativas de aumento da capacidade produtiva passou de 17%, em 2004, para 19% em 2005, com projeções de ampliação mais expressivas em três das quatro categorias investigadas.

Em três anos, a indústria deverá exibir expansão de 19%, de acordo com as expectativas dos entrevistados. O fabricantes de bens de consumo, fornecedores do mercado interno e, portanto, dependentes de aumento na renda, esperam aumentar o parque fabril em cerca de 11% em 2005, enquanto as indústrias de bens de capital aguardam por uma expansão de 9%. Produtores de materiais de construção e de bens intermediários apostam num incremento de 7% da capacidade instalada.