Título: Exploração avança além do pré-sal
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Jornal do Brasil, 25/08/2008, Economia, p. A17
Estatal petrolífera expande as fronteiras da camada para aumentar capital e controle.
Com muitas reservas para explorar e disposição de convencer o governo a ficar com parte das áreas que ainda não foram licitadas, a Petrobras tem planos de aumentar capital. A idéia é elevar o controle estatal dos atuais 40% para 60%.
Com isso, a empresa tenta driblar o temor do Planalto pelo fato de boa parte de suas ações estarem nas mãos de empresas estrangeiras.
O governo quer aprovar no Congresso a criação de uma nova estatal para manter a exploração do petróleo da camada pré-sal sob controle totalmente brasileiro. Também seria criado um fundo soberano com recursos investidos no exterior para gerir a receita proveniente da nova estatal. Esses fundos têm sido adotados pela maioria dos países produtores de petróleo.
A proposta está sendo avaliada pelo grupo de ministros criado para decidir como serão geridas as reservas do pré-sal. Mas enquanto o governo decide o que fazer com as áreas que não foram licitadas, a Petrobras começa a expandir as fronteiras do pré-sal já concedido à iniciativa privada. Para realizar novas descobertas na extensa faixa de petróleo abaixo do sal que vai de Santa Catarina ao sul do Nordeste, a companhia está aumentando a profundidade das perfurações nos poços localizados longe de Tupi, Carioca, Júpiter e vizinhos que até então concentravam as atenções do pré-sal.
Fora do eixo Rio-São Paulo, duas áreas no litoral de Santa Catarina começaram a ser perfuradas nos últimos dias e a expectativa é encontrar hidrocarbonetos tanto em cima como embaixo da camada de sal. De olho no pós e no pré-sal, a empresa tem enviado sondas de perfuração para outros blocos da bacia de Santos, Campos e Espírito Santo.
-Estamos com sondas espalhadas por várias áreas do pré-sal, e não somente no entorno de Tupi disse o gerente-executivo de exploração e produção, Francisco Nepomuceno.
Segundo informações da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP), há pelo menos sete sondas na bacia de Santos. Destas, apenas duas se encontram nos arredores de Tupi, região que já tem oito campos promissores (Caramba, Bem-te-vi, Carioca, Guará, Júpiter, Tupi, Iara e Parati). Outras cinco sondas estão fora da província que pode ter campos interligados.
Várias áreas
A companhia começou a perfurar blocos dos setores SM13 e SM14, no sul da bacia de Santos, no litoral catarinense. A Petrobras adquiriu direitos de exploração de sete áreas nesta região em 2003. Os prazos para descobrir óleo e avaliar os blocos vencem em 2010, de acordo com os contratos. Já produzem no estado os campos Coral e Estrela do Mar.
Nepomuceno explica que o objetivo inicial da perfuração nas áreas de Santa Catarina são o óleo e o gás que estão acima da camada de sal. A Petrobras vai aproveitar para continuar perfurando abaixo do sal, porque existem fortes indícios de encontrar jazidas também embaixo da camada, a cerca de seis mil metros de profundidade. Fontes avaliam que a empresa está repetindo a prática de ir mais fundo do que o inicialmente previsto em vários outros pontos da costa, já que o potencial do pré-sal se estende do Sul de Santa Catarina ao litoral sul do Nordeste.
Também longe de Tupi, mas dentro da bacia de Santos, o SM322, licitado em 2004, está sendo perfurado. O bloco fica em frente à Baía de Guanabara. O executivo da Petrobras disse que a empresa levou outra sonda para o BS45, batizado de Taquari, mais um que não compõe a província mais badalada de Santos. Também em fase de perfuração, segundo a ANP, encontra-se o BM-S-12, da Petrobras em parceria com a Queiroz Galvão.
A perfuração de poços continua no campo de Júpiter, área que ainda aval da ANP para continuar nas mãos da Petrobras. O prazo para a empresa enviar planos de avaliação da área termina em 2009. Com prazo mais apertado, o BM-S-8 também não teve ainda o plano de avaliação aprovado. Em parceria com Shell e Petrogal, a Petrobras descobriu neste bloco o campo de Bem-te-vi, mas ainda há prospectos aparentemente sem descobertas. As empresas devem cumprir prazos para manter as concessões. Áreas sem descobertas voltam para a União.
Nepomuceno afirmou que a ANP já aprovou os planos de avaliação da Petrobras e parceiras para os blocos BM-S-9 (Carioca), BM-S-10 (Parati) e BM-S-11 (Tupi). Os prazos de exploração expiram agora em setembro. Falta aprovação para Bem-te-vi, Iara e Guara, mas a Petrobras já mandou os relatórios, segundo Nepomuceno. Com mais tempo para fazer descobertas em outras áreas, as empresas estariam agora desbravando outras oportunidades do pré-sal. Na semana passada, a petroleira iniciou a perfuração de um poço na Bacia de Campos e outros poços em terra na Bahia e no Rio Grande do Norte. De acordo com ANP, há sondas perfurando também um bloco no Espírito Santo.
Sondas ao máximo
- Já que vai perfurar e existe potencial abaixo do sal, a Petrobras está aproveitando as sondas ao máximo diz um especialista. Na próxima semana, o primeiro óleo do pré-sal começa a ser produzido na bacia do Espírito Santo.
O consultor Márcio Melo, que preside a Associação Brasileira de Geólogos, estima que na bacia de Campos parte do petróleo do pré-sal já migrou para cima da camada de sal.
Segundo ele, a fonte para os maiores campos de produção do Brasil atualmente - Roncador e Marlim - vem das profundezas do sal. O especialista estima reservas da ordem de 40 bilhões de barris em todo o pré-sal, abaixo do mercado, que aponta para algo entre 50 bilhões e 70 bilhões de barris.