Título: Depois da votação, protesto de parte dos oposicionistas
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 29/08/2008, Tema do Dia, p. A2

A oposição na Câmara admite que o Senado tem sido mais condescendente com o governo do que de costume. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), não há garantia alguma de que os novos cargos serão criados em áreas realmente necessárias e ocupados por funcionários públicos ao invés de aliados da base do governo.

¿ É preciso analisar cuidadosamente a composição destes novos cargos sob o aspecto da necessidade e do custo salarial deles ¿ defende o parlamentar. ¿ A continuar assim, os gastos estatais com a máquina vão crescer mais do que a receita. É uma bomba-relógio.

Senadores da oposição também criticaram a aprovação do que chamaram de "trem da alegria" do Judiciário. Dizem que a votação foi apenas simbólica, sem o registro nominal de cada senador. Apesar das críticas, a oposição reconhece que não se mobilizou para derrubar os projetos.

Apoio isolado

Poucos parlamentares da oposição acompanharam a votação no plenário, mas entre eles estava o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O tucano defendeu a criação dos cargos ao afirmar que seria uma "injustiça" limitar a atuação dos tribunais porque há necessidade de "reforços" no quadro dos servidores.

Diante do baixo quórum e da falta de articulação só restou a alguns oposicionistas lamentar.

¿ É um trem da alegria de luxo, o governo está criando cargos exageradamente ¿ disse o vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). ¿ Mas não há como não responsabilizar a oposição, não por aprovar, ela é minoritária e não teria número para rejeitar. Mas ela poderia resistir mais para dificultar a aprovação pelo governo.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) admitiu que, diante do "cansaço", os parlamentares acabam não refletindo profundamente sobre as matérias em pauta.

¿ Os senadores começam a chegar no limite do seu estado físico ¿ argumentou. ¿ A sessão terminou no dia de hoje (ontem). Sempre que há situações como essa, acontece de não se examinar as matérias com profundidade.

O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), criticou a criação de cargos comissionados em ano eleitoral.

¿ Eu achava que nesse momento de eleição não se poderia aprovar nada envolvendo o funcionalismo ¿ argumentou. ¿ O Judiciário não disputa eleição, mas em outras áreas é até proibido. No município, no momento de eleição para aquela entidade da federação, é proibido se criar cargos ou dar aumento.

De olho nas bases

Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília, Leonardo Barreto, o governo e o PT estariam tentando, com a criação de novos cargos e reajustes salariais generosos, recuperar uma de suas principais bases políticas.

¿ Programaticamente, o PT está disposto a reconstruir o Estado ¿ analisa Barreto. ¿ Isso significa aumento de cargos, criação de novos órgãos e a recomposição da massa salarial do funcionalismo público, que sempre foi uma das bases políticas mais fortes do PT. Afinal, muitos dos principais dirigentes sindicais do PT sempre estiveram ligados às entidades do funcionalismo.

Segundo o professor, o outro elemento que se destaca na ação do governo é a tentativa de ampliar e consolidar o apoio da base trocando a criação de novos cargos para acomodar aliados pela disposição em votar projetos de interesse do Palácio do Planalto. De acordo com Barreto, o fato de que boa parte dos cargos criados são de confiança e não contratações de servidores públicos seria um sinal de que o segundo fator, da acomodação dos aliados, estaria se sobrepondo ao primeiro, mais programático.

O diagnóstico do cientista político é o de que Lula estaria se aproveitando de um cenário econômico mais favorável para levar adiante alguns dos planos de reforço do Estado que não foram possíveis de executar no primeiro mandato, quando os recordes de arrecadação não eram tão freqüentes. Barreto diz ainda que, além da economia, as eleições constituem oportunidade de ouro para o governo implantar projetos de reajustes salariais devido ao fato de que a oposição não estaria tão disposta a enfrentar o desgaste de barrar aumentos de salários.

¿ O Congresso Nacional não está em Brasília, está nas eleições ¿ critica. ¿ Fica até mais difícil para a oposição fazer oposição. (Com Folhapress)