Título: PCC tenta criar base na Papuda
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Brasília, p. D5

Polícia intercepta estatuto da facção criminosa que age em vários presídios do País, principalmente em São Paulo

Sob a sigla PLD - Paz, Liberdade e Direitos - o Primeiro Comando Capital (PCC), facção criminosa infiltrada em vários presídios do País, principalmente em São Paulo, está tentando se organizar no Complexo Penitenciário da Papuda. Agentes penitenciários interceptaram uma carta, enviada aos detentos, ditando o ''estatuto'' da organização. O JB teve acesso a uma cópia da carta, que prevê obrigações, direitos e punições aos integrantes da organização. O documento é um projeto de criação de um poder paralelo para enfrentar o Estado. A carta, datada de 15 de novembro de 2004, foi descoberta no Centro de Internamento e Reeducação (CIR), quando um policial interceptou um catatau (gíria para bilhete clandestino trocado entre presos). A carta, de quatro páginas, foi jogada de um pátio para outro e tinha endereço em código. O agente viu a bolinha de de papel cair no chão.

O documento improvisado traz recomendações e tem dez artigos. Ensina como arregimentar integrantes para a facção, arrecadar finanças e aplicar punição aos associados que descumprirem o regimento. Desrespeitar as normas significa traição e, neste caso, não há outra punição que não seja a morte. Tráfico de drogas, fugas, compra de armas, resgates e assassinatos. Tudo está previsto e é incentivado no estatuto.

A Secretaria de Segurança Pública não nega as investidas do PCC na Papuda. A organização vem tentando arregimentar detentos desde 2001. Mas a Administração Penitenciária tem conseguido minar a permanente tentativa do PLD em ganhar espaço e força no DF e entre seus 7.300 presos.

De acordo com o gerente de Administração Penitenciária, Rodrigo Dias, tudo começou quando o criminoso Marcos Camacho, 36 anos, foi transferido de São Paulo para Brasília, no dia 5 de março de 2001. Camacho, conhecido com Marcola, era apontado como o líder máximo do PCC. Quinze dias antes de ser transferido para a Papuda, mediante acordo entre as Secretarias de Segurança Pública de São Paulo e DF, Marcola comandou uma das maiores rebeliões já ocorrida no País. Na ocasião, 27 mil presos se amotinaram em diversas penitenciárias brasileiras.

- Ele tentou, mas não houve grandes repercussões. E, desde de então, eles [PDL]tentam criar forças, mas sempre foram rechaçados graças a um constante trabalho de inteligência feito em parceria com a Justiça - disse Dias.

Marcola ficou pouco tempo no DF. Uma crise entre a direção da Papuda e a Justiça forçou seu retorno a São Paulo. Mas isso não impediu as contínuas investidas do PCC. Dias explicou que a Papuda recebe bandidos de diversos Estados. E muitos têm contato com o PCC, que quer fazer a sigla ter uma ramificação no DF a qualquer custo.

- Mas estamos conseguido combatê-los - disse Dias.

O Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol) afirma que a resistência ao PCC está erguida a muito custo, em decorrência da falta de agentes. O presidente do Sinpol, Wellington Sousa, disse que o PLD está organizado de forma incipiente, porém é necessária a contratação urgente de agentes penitenciários.

Segunda Sousa, o Sinpol vem alertando o governo há muito tempo. Porém, nada está sendo feito. Para o presidente do Sinpol, a situação é preocupante, pois coloca a vida de agentes e presos em risco, além de comprometer a própria autoridade do Estado dentro da cadeia.

- É um agente para cada 11 presos, quando o ideal seria 1 para 3. E pode ficar pior, pois novos presídios vão ser construídos. Se agentes não forem contratados urgentemente, vai ficar igual ao Rio de Janeiro - comentou Sousa.