Título: Chega a temporada das drogas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2005, Brasília, p. D5

Rave{/i} marca o início da estação do consumo de drogas sintéticas no DF

A ''estação'' do consumo de drogas sintéticas e de alto custo vai começar amanhã. Uma grande festa rave vai acontecer no Lago Sul e os traficantes de ecstasy e LSD estão se movimentando, apesar de receosos, por conta da quadrilha desbaratada na semana passada e da caçada policial a Michelli Tocci, 31 anos, o Barão do Ecstasy. Usuários - jovens de classe média alta - garantem que as drogas estão sendo vendidas. A polícia afirma estar atenta ao movimento. O diretor-adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), delegado Fernando César Costa, explicou que as drogas são como ''frutos'', cada um têm sua estação. Ele disse que maconha, cocaína e lança-perfume são bastante usados durante no verão e no Carnaval.

Passado esse período, disse o delegado, vem a vez do ecstasy, LSD e outras drogas sintéticas, consumidas em festas ditas privadas, como em boates e raves. A essas se juntam o haxixe e skunk - derivados da maconha, porém bem mais potentes e caros.

- Traficante estão se movimentando para conseguir essas drogas - disse o delegado.

A estudante de direito Mônica (nome fictício), 23 anos, confirma a declaração do delegado. Ela e cinco amigas vão a festa promovida no Lago Sul, que começa amanhã à noite e dura até o fim da tarde sábado. Todas compraram drogas.

- É impossível ir num lugar desse e não tomar nada. Você compra o ingresso e já encomenda a droga. É assim, ingresso numa mão e a bala (ecstasy) ou o doce (LSD) na outra - disse Mônica.

A estudante comprou um micro-ponto. Apesar de pequeno, garante a jovem, é três vezes mais forte que o ecstasy. Pagou R$ 60, com muita antecedência.

- Sempre tem na festa, mas é bem mais caro e ninguém quer correr o risco de pagar mais. Nessa rave então, com o Raja Ram (JD israelense, um dos grandes nomes da música eletrônica)... - comentou empolgada.

Mônica, moradora da Asa Norte, comprou a droga de uma amiga de 22 anos, estudante de psicologia. Essa, disse Mônica, sempre compra algumas balas e doces além das que vai usar e revende por R$ 20 a mais do que pagou.

O promotor José Theodoro Carvalho, da 7ª Promotoria do MPDF, confirma a prática dos jovens em comprar a droga antes das festas, para evitar preços altos ou prisões em flagrante.

- É possível adquirir na festa, mas se dá em menor grau. A pessoa (usuária de droga) se prepara com antecedência. Quem vai para o reggae, compra maconha, para o show de música baiana, o lança-perfume, e para a rave, o ecstasy - disse o promotor.

O delegado Felipe Tavares, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal (DRE), afirmou ser possível que parte da droga apreendida com a quadrilha de Tocci estaria destinada à festa que acontece amanhã.

- Constatamos que os traficantes estão meio receosos, mas devem estar traficando. Eu não conheço rave que não tenha droga. Chega a ser considerado território livre - disse Tavares, acrescentando que a PF está de olho nessa festa, visto o fato de muita gente, inclusive traficantes, ser de outros Estados.

Mônica disse já estar com seu kit rave pronto. Uma garrafa grande de água, balas e pirulitos. Ela explica: dançar cerca de dez horas, ininterruptas, desidrata o corpo, devido a transpiração em excesso. E o efeito da micro-ponto deixa o usuário tão ''elétrico'' que ele morde os lábios sem parar. Chicletes e pirulitos evitam machucar os lábios.