Título: Boas notícias
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/02/2005, Opinião, p. A10

Os notáveis números divulgados pelo IBGE sobre o desempenho da indústria brasileira em 2004 constituem mais uma evidência de que a economia se recupera de maneira equilibrada e consistente. Apesar das teimosas tentativas forjadas pelas cassandras de sempre, os passos se mostram consideravelmente firmes. A indústria, diz o IBGE, cresceu 8,3% no ano passado, a maior expansão nos últimos 18 anos. Superou, por exemplo, os números de 1994, quando o Plano Real estimulou fortemente o consumo no país. A atividade nas fábricas só foi maior em 1986, em plena efervescência do Plano Cruzado, quando o crescimento atingiu 10,9%. Pelo balanço do IBGE, o aumento da produção foi generalizado: apenas um entre 27 setores pesquisados teve desempenho negativo. A tais números acrescentem-se os dados sobre a recuperação - embora ainda pequena - do poder de compra dos salários e do consumo das famílias, verificados no último trimestre de 2004. Os shopping centers, sublinhe-se, fecharam o ano com faturamento nominal 16% maior do que em 2003. Por outro lado, depois de anos de recolhimento, o consumo das famílias cresceu 6%.

Tudo somado, são justificáveis as sucessivas declarações de otimismo de representantes do governo Lula. Os bons ventos da indústria refletem o vigor das exportações, as melhores condições de crédito da economia e a recuperação da renda dos trabalhadores. Embora a base de comparação sempre se refira a períodos pouco alentadores, é inegável que a economia está no rumo certo, conduzida pelo ministro Palocci.

A prudência, no entanto, sugere reflexões relevantes para que o Brasil se depare com um ambiente virtuoso, capaz de conjugar crescimento com recuperação da renda, menores índices de desemprego, juros mais baixos e inflação sob controle. Para tanto, o país tem desafios complexos a enfrentar, que requerem empenho e ações duradouras do governo e do Congresso.

Os dados do último trimestre mostraram uma desaceleração em bens duráveis e de capital. Para manter o crescimento da produção industrial em 2005, será fundamental um maior dinamismo dos bens de consumo não-duráveis e semiduráveis. Em outras palavras: espera-se que a recuperação da renda permita o aumento das vendas de alimentos, bebidas e têxteis, garantindo o fôlego da indústria e da economia. O risco, porém, tem nome: o aperto dos juros. Grande parte dos analistas esperava que o Banco Central abortasse em dezembro a trajetória de alta da taxa Selic em dezembro. O freio não veio. O BC ainda sinalizou em ata que novos aumentos se repetirão.

Juros mais altos, perspectivas de crescimento mais modestas. Os níveis estratosféricos dos juros brasileiros podem desestimular o consumo, aumentar o custo do serviço da dívida do governo, reduzir o apetite dos investimentos, desacelerar a economia e gerar desemprego. Superar tais riscos requer muito mais do que disposição e boa vontade do Banco Central. Exige, por exemplo, a aprovação das reformas tributária e fiscal, capazes de livrar o setor público de dependência dos impostos e dos juros para equilibrar suas contas. Do ajuste no câmbio e de um freio maior nos gastos públicos também depende o sucesso da economia em 2005. Convém torcer - e trabalhar.