Título: De trunfo a vilã, internet expõe as fraquezas dos candidatos
Autor: Bruno, Raphael
Fonte: Jornal do Brasil, 01/09/2008, Eleições Municipais, p. A7

Rede é aliada na divulgação de vídeos. Mas gafes também vazam.

BRASÍLIA

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de restringir a utilização da internet e outras ferramentas de tecnologia nas eleições deste ano não é levada em consideração pelos usuários da rede mundial de computadores. Em sites de vídeos online, como o YouTube, o eleitor, além de assistir a discursos, entrevistas e programas eleitorais de candidatos às prefeituras de algumas das principais capitais brasileiras, tem a chance de conhecer um pouco mais do lado inusitado ­ para não dizer folclórico ­ dos políticos. Declarações infelizes, situações embaraçosas e perda de compostura por parte de candidatos atuais são alguns dos comportamentos que mais fazem sucesso entre os internautas. No mundo virtual, a política despenca para a chacota sem maiores dificuldades, dando, em poucos dias de campanha, uma amostra do que aguarda o TSE, que decidiu analisar possíveis abusos das ferramentas da Internet caso a caso nestas eleições.

Viés artístico

O candidato do PRB à Prefeitura do Rio e líder nas pesquisas até o momento, Marcelo Crivella, por exemplo, não consegue, ao menos na internet, escapar da forte vinculação com sua base política religiosa. O YouTube é recheado de vídeos com trilhas musicais evangélicas ao fundo destinados a promover o nome de Crivella. Algumas canções são de autoria do próprio candidato. Também não faltam discursos do senador, ou melhor, "bispo" Crivella, como é chamado em muitos dos vídeos, em reuniões e cultos da Igreja Universal do Reino de Deus. O vídeo de maior sucesso do parlamentar na internet, com 70 mil acessos, é, contudo, trecho de uma entrevista que concedeu ao apresentador Jô Soares no ano passado, em que Crivella é confrontado por defender que o homossexualismo é pecado e por suas críticas ao projeto de lei que criminaliza a homofobia.

Apoio às milícias

Outro candidato à prefeitura do Rio que não escapa do escrutínio dos internautas é o peemedebista Eduardo Paes. Em um vídeo no YouTube com mais de 32 mil acessos, Paes é apresentado como o "candidato das milícias", devido à entrevista que concedeu em 2006, quando era candidato ao governo do Estado pelo PSDB, na qual sugere que a "polícia mineira" ­ termo cunhado para designar oficiais da polícia que agem, muitas vezes fora do horário de trabalho, com truculência excessiva e desrespeito às leis no combate à marginais ­ é um "exemplo" a ser seguido pelo Estado no enfrentamento com o narcotráfico. ­ Você tem áreas do Estado em que o Estado perdeu sua soberania ­ diz Paes na entrevista exibida no site de vídeos. ­ O Estado precisa recuperar esta soberania. Vou dar um exemplo. Jacarepuagá, no Rio de Janeiro, é um bairro em que a tal da polícia mineira, formada por policiais, bombeiros, trouxe tranqüilidade à população. São José Operário era um dos morros mais violentos deste Estado. E agora é um dos lugares mais tranqüilos. (...) Com ação, com inteligência, você tem como fazer com que o Estado retome essa soberania. Paes começou sua carreira política em Jacarepaguá, onde foi subprefeito entre 1993 e 1996. Em entrevista concedida ao JB no início do mês, o candidato voltou a apresentar as milícias como exemplo, classificando-as de "maior prova de que há possibilidade, com combate à criminalidade com rigor", de "retomar" estas áreas de território que fugiram ao controle do Estado. Detalhe: Paes é o candidato do governador Sérgio Cabral, que manda na polícia estadual.