Título: Jobim entra na briga Abin-federais
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/09/2008, País, p. A10

Ministro teria interesse na área de inteligência. PF determina segredo nas investigações.

BRASÍLIA

As investigações sobre o grampo no aparelho do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e a guerra entre a Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ganharam mais um ator de peso: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, cuja posição foi decisiva na última para o afastamento temporário do delegado Paulo Lacerda do ao afirmar que a Abin utilizava uma maleta secreta de espionagem. O equipamento de monitoramento eletrônico comprado pela Abin ¿ um sistema anti-grampo conhecido por Oscor 5000, produzido pela empresa americana Reserarch Eletrônics International (REI) ¿ é usado pelo Exército e por outros cinco órgãos federais: Senado, Polícia Federal Ministério Público Federal, Caixa Econômica Federal e Polícia Militar do Distrito Federal.

As críticas ao uso do equipamento foram um dos argumentos usados por Jobim para convencer o presidente Lula a afastar Lacerda. Segundo fontes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), durante a romaria de políticos ao seu gabinete para pedir providências sobre o grampo, Lula estava convencido que a resposta política do governo seria a abertura de uma investigação ampla e profunda.

Proteção de dados

Mas Jobim teria exibido cópia de uma nota fiscal da compra do equipamento para convencer o presidente que a direção da Abin havia omitido a informação sobre a maleta. Não explicou que a transação passava por uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) e nem que o equipamento foi construído para proteger dados e informações estratégicas e não para espionar.

Para funcionar como grampo, segundo técnicos da Abin, o equipamento teria de ser modificado para receber alguns rebites eletrônicos. Mesmo assim, os equipamentos do gênero só servem para monitorar ambientes e telefones celulares. Na Abin e na PF, a posição de Jobim foi interpretada como um sinal de que aos militares interessa o retorno da agência à comunidade de informações das Forças Armadas. O Jornal do Brasil tentou um contato com o ministro, sem obter retorno.

De olho na crise e para espantar as articulações para a formação de outras investigações no Congresso, a CPI do Grampo aprovou ontem a convocação de Jobim, do diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa e do diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda, que prestarão depoimento na próxima semana. Delegado federal, o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) diz que PF e Abin estão agindo de forma antagônica e quer esclarecer se a guerra entre os dois órgãos tem relação com a Operação Satiagraha.

Sigilo total

Na PF a ordem é tocar o inquérito com rigor técnico, agilidade e sigilo absoluto. Numa iniciativa política rara dentro da corporação, o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa fez um périplo pelo Congresso, STF e ainda irá ao general Jorge Félix, chefe do GSI, para azeitar os canais da investigação. A polícia terá de entrar na Abin, ouvir o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, ministros e senadores citados entre os alvos do grampo para tentar esclarecer o caso. Nem a PF escapará da devassa: o sistema de grampo do órgão, conhecido por Guardião, criado há cerca de cinco anos por uma comissão chefiada por Corrêa, deverá passar por uma análise técnica com a finalidade de descobrir se o delegado Protógenes Queiroz, que chefiou a Operação Satiagraha, cumpriu rigorosamente as escutas autorizadas pela justiça nas investigações contra o banqueiro Daniel Dantas ¿ um dos suspeitos de envolvimento com a espionagem. Os outros alvos da investigação incluem os sistemas telefônicos do Senado, STF, Abin e funcionários ou ex-funcionários que trabalharam para esses órgãos. A polícia também deverá requisitar á revista Veja a cópia da transcrição do diálogo entre o Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres.