Título: Uma disputa bilionária em Furnas
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Jornal do Brasil, 02/09/2008, Economia, p. A20

Empresa e direção do fundo de pensão dos funcionários lutam por gestão de R$ 7,3 bilhões.

A administração de um patrimônio de R$ 7,3 bilhões está colocando em oposição frontal o Ministério das Minas e Energia, a direção de Furnas Centrais Elétricas, encabeçada pelo arquiteto Luiz Paulo Conde, e a direção da Fundação Real Grandeza, que administra o fundo de pensão dos funcionários da empresa.

Conde afirma ter havido uma "decisão de governo" no sentido de exonerar da presidência da Fundação Real Grandeza, o engenheiro Sérgio Wilson Ferraz Fontes, eleito para mandato de três anos, que expiraria mês passado. Ocorre que, antes disso, fora aprovada mudança nos estatutos, prorrogando o mandato para quatro anos, com possibilidade de reeleição.

Alternância

A diretoria de Furnas, segundo explicou Luiz Paulo Conde, a partir da decisão da pasta do ministro Edison Lobão, consideraria que a gestão dos recursos dos funcionários, por questão de "alternância saudável", deveria ser efetuada a partir de mandatos de três anos, sem reeleição.

Com essa convicção, a direção da estatal resolveu alterar o estatuto, solicitando revogação da portaria 2.342 da Secretaria de Previdência Complementar, que ratificara alteração do estatuto para alongar o mandato do conselho deliberativo de três para quatro anos, com direito a reeleição.

Para ter validade, entretanto, a decisão da diretoria de Furnas dependeria de aprovação por parte do conselho deliberativo da Fundação Real Grandeza, onde Furnas, e os empregados, ativos e aposentados, têm representação paritária, com voto de Minerva cabendo à patrocinadora, Furnas, em caso de empate em votações.

Ocorre que o presidente da Fundação, Ferraz Fontes, entendeu que a proposta deveria ter sido apresentada ao conselho diretor pelos representantes da empresa, o que não ocorreu. E, segundo Conde, engavetou a comunicação.

Agora, Conde mandou instaurar auditoria interna a partir do que considera ato de insubordinação do engenheiro Ferraz Fontes, para investigar por que a decisão de governo não foi submetida ao conselho da Fundação Real Grandeza.

Dúvida

¿ Não aceitar uma decisão da diretoria é um ato de insubordinação, que contraria o espírito democrático que deve vigorar na gestão dos recursos dos patrocinados. O ideal é que quem administre recursos de funcionários não fique muito tempo no cargo. Qual o interesse de alguém se perpetuar no cargo de gestão dessas fortuna que são os recursos da Fundação? Eu não sei - disse Luiz Paulo Conde.

O diretor -presidente de Furnas, que hoje se reunirá com a diretoria da empresa, já determinou que o engenheiro, colocado à disposição da FRG ao ser eleito, volte para suas funções originais no quadro funcional da empresa.

Em Furnas, comentava-se ontem que aposentados beneficiários da Fundação Real Grandeza estariam sendo convocados para realizar manifestação diante da empresa, para realizar protesto contra as mudanças estimuladas pelo Ministério das Minas e Energia.