Título: Pré-sal fará PIB crescer 6%, diz ex-BC
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/08/2008, Economia, p. A17
Em seminário na Firjan, Carlos Langoni calcula que reservas vão impulsionar economia.
REUTERS
Os investimentos necessários pa- ra viabilizar a exploração do petróleo na camada pré-sal podem elevar o padrão de crescimento da economia do Brasil dos atuais 4% para 6% ao ano, avaliou o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni, no seminário Desafios do pré-sal, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Segundo o economista, o pré-sal pode elevar a taxa de investimento do país dos atuais 16% para até 26% do Produto Interno Bruto (PIB), no período de uma década, colocando o Brasil definitivamente em uma rota de crescimento sustentado.
- O Brasil passa por um período de transição econômica. Estamos na ante-sala do crescimento econômico que pode chegar a 6% ao ano com distribuição de renda e geração de riqueza disse Langoni, na abertura do seminário.
O ex-presidente do BC ressaltou que o pré-sal movimentará a cadeia de petróleo, mas também estimulará investimentos indiretos no segmento de fornecedores de equipamentos e geração de serviços.
Para Langoni, a descoberta do pré-sal veio na hora certa e é fruto do modelo regulatório brasileiro, que a partir de 1998 abriu o mercado a empresas estrangeiras e permitiu que a Petrobras pudesse realizar novos investimentos.
- Deus de fato é brasileiro. Ele nos deu essa riqueza no momento certo. A economia brasileira é sólida, diversificada e dinâmica. Em outros países o petróleo surgiu em uma fase inicial de crescimento lembrou. O pré-sal é uma possibilidade concreta e histórica de consolidar o padrão de crescimento do país.
O ex-presidente do BC defendeu a adaptação do atual marco regulatório ao pré-sal, com o aumento de taxas como royalties e participação especial.
Há quem defenda no governo a mudança no modelo de exploração, do atual regime de concessão para o de partilha. A posição de Langoni foi apoiada pelo presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), João Carlos de Luca, e pelo secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, Julio Bueno.
-Alimentar ondas de incertezas pode postergar ou paralisar investimentos e gerar prejuízo a milhares de acionistas, entre eles milhares de trabalhadores brasileiros (que usaram o FGTS para comprar ações da Petrobras) - disse Langoni.
-O governo tem soberania de fazer os ajustes. Defendemos a adaptação do modelo existente... com a Petrobras com um papel preponderante afirmou o presidente do IBP.
- Eu entendo que esse caminho exige uma participação forte da Petrobrás, bem como de empresas de capital estrangeiro e nacional defendeu o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), em discurso. Não vejo nenhuma necessidade de mudanças de lei, criação de uma nova empresa estatal, bem como mudança de modelo de concessão para o modelo de partilha.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse, também no seminário, que é "evidente" que a Petrobras quer mudanças no regime de concessão de blocos no pré-sal. Segundo Mercadante, pelo atual modelo, a empresa não teria condições de pagar pelos blocos mais valorizados nos leilões da ANP, já que está empregando pesados recursos na exploração das áreas do pré-sal onde já descobriu óleo.
- Evidente que a Petrobras não quer a continuidade do regime de concessão no pré-sal. Evidente que não quer. Todo mundo que sentou aqui sabe, mas não diz afirmou o senador.
-Com o programa de investimentos que ela carrega hoje, e terá que fazer com o pré-sal, mantido o regime de concessão, ela vai ter que disputar um bônus que vai descapitalizar ainda mais a Petrobras. Ela vai fragilizar a posição dela.
Até o momento, a Petrobras não se manifestou publicamente a respeito da discussão sobre mudança nas regras de exploração do petróleo no país.
Mercadante acrescentou que todas as alternativas estudadas para o pré-sal prevêem o fortalecimento da Petrobras, e criticou a proposta de criação de uma nova estatal para explorar na promissora região. Para ele, essa hipótese "não tem cabimento" e serve apenas para desfocar a questão estratégica do debate.