Título: Também chamaram o Mensalão de mentira
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Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2008, Tema do Dia, p. A2

Não é a primeira vez que se tenta desmentir a revelação de fatos graves pela imprensa, no livre exercício da liberdade de expressão. O Jornal do Brasil, por exemplo, foi o primeiro veículo de comunicação do país a revelar, seguido de desmentidos, o chamado "Mensalão". Dia 24 de setembro de 2004, o JB publicava, com exclusividade, em sua primeira página, a manchete: "Planalto paga mesada a deputados".

Apesar de o presidente da Câmara, à época, João Paulo Cunha (PT-SP), determinar a abertura de um processo da Corregedoria-Geral e na Procuradoria da Casa, o caso foi abafado, inclusive pelo governo. A Câmara chegou a ganhar direito de resposta, no qual João Paulo Cunha afirmava ser falsa a afirmação de que o governo havia montado um esquema de distribuição de verba para aliados do Congresso. Cunha chegou a dizer que entraria com uma ação de indenização por danos morais contra o JB e seus repórteres.

Em junho de 2005, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) confirmou publicamente a existência do "Mensalão". No Congresso, foram criadas duas CPIs (dos Correios e do Mensalão). O ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, confessou a existência de um caixa dois do partido, irrigado por empréstimos suspeitos com aval do empresário Marcos Valério de Souza. As CPIs recomendaram a cassação de 18 parlamentares. O deputado João Paulo Cunha, aquele mesmo que havia negado as denúncias e ameaçado processar o JB, admitiu que sua mulher sacou R$ 50 mil no Banco Rural, relacionados ao esquema.

As denúncias do "Mensalão" mudaram o cenário político brasileiro. O deputado José Dirceu (PT-SP) teve de deixar a Casa Civil. Foi cassado. Roberto Jefferson (PTB) também. O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal que, em agosto de 2007, decidiu acatar denúncia contra todos os 40 acusados no escândalo.