Título: Desconhecimento afeta relações bilaterais
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 31/08/2008, Economia, p. E3

Em 2007, a China desembolsou US$ 956 bilhões em importação. Para este ano, a previsão é que o montante alcance US$ 1.166 trilhão em compras efetuadas ao redor do planeta. Deste mar de dólares, vieram para o Brasil US$ 10,7 bilhões em 2007 e, em 2008, estima-se algo em torno de US$ 15 bilhões.

Tal performance, no comparativo com a agressividade do comércio chinês, tem provocado déficits na balança comercial. O último superávit brasileiro foi em 2006, com US$ 411 milhões. Em 2007, o déficit foi de US$ 1,86 bilhão e, até dezembro, a diferença deve somar mais de US$ 5 bilhões a favor dos chineses.

¿ O Brasil nunca vendeu nada para a China, o Brasil é comprado pela China. Não existia um esforço comercial. As empresas brasileiras não se interessam pela China por desconhecimento ¿ diz Rodrigo Maciel, do Conselho empresarial Brasil-China.

¿ O maior desafio é o desconhecimento recíproco que traz preconceitos e erros nos negócios ¿ diz o advogado Durval Noronha.

Mostrar as oportunidades de negócios entre os países é o foco da agenda China elaborada pelo Conselho bilateral.

"A competitividade através da internacionalização deverá ser encarada como uma oportunidade e não como uma ameaça até mesmo por uma questão de sobrevivência no próprio mercado interno", conta Nelson Ludovico, professor de Comércio Exterior e Logística Internacional da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, em outro artigo exclusivo para o JB.

Cesta cheia

Pelas contas do Conselho, as chances de negócios são tão grandes quanto a distância (11 horas de vôo) que separa as nações. Os 619 produtos que a China normalmente importa e que constam da pauta de exportações brasileira, somam US$ 637 bilhões. No curto prazo, o Brasil tem condições de vender 147 itens desta cesta (que somaram US$ 218 bilhões em 2007), com carnes (suínas, bovinas e peixes), massas e preparações alimentícias, produtos farmacêuticos, tintas vernizes, higiene pessoal e cosméticos ¿ produtos de beleza e maquiagem ¿ máquinas e motores (pistão, hidráulicos, bombas de combustível).

Um dos principais objetivos da agenda China do Conselho é triplicar as exportações brasileiras entre 2007 e 2010. Em 2007, as exportações brasileiras para a China totalizaram US$ 10,7 bilhões.

¿ A meta em 2010 é chegar aos US$ 30 bilhões, com diversificação de pauta. Nada contra soja, petróleo e minério. Existe uma oportunidade imensa para o Brasil ampliar a nossa pauta exportadora. Que é muito concentrada ¿ finaliza Rodrigo Maciel.

Sobre a preponderância das commodities na cesta de exportação brasileira, Gilman Viana, presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz, em artigo para o Jornal do Brasil, que "não podemos esquecer que o pilar básico do comércio exterior é a demanda. Estados Unidos, União Européia e Japão, por exemplo, têm plenas condições de aumentar a produção de máquinas, equipamentos e softwares. Mas não têm margem para elevar a produção de alimentos".