Título: Muro do Parque de Exposições custou R$ 120 mil em Aperibé
Autor: Jardim, Idelina; Máiran, Paula
Fonte: Jornal do Brasil, 07/09/2008, Tema do Dia, p. A2

Um muro de R$ 120 mil para o parque de exposições agropecuárias, uma brinquedoteca para o lazer infantil, 17 casas próprias para quem nunca teve, obras por toda parte. Pito pequeno em tupi-guarani, Aperibé, município de 92,4 quilômetros quadrados e 8.800 habitantes, incrustado na região Noroeste fluminense, parece um canteiro de obras, tantas as que estão em andamento. Mas inspeção ordinária realizada em fevereiro deste ano pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) na cidade apurou irregularidades que resultaram em relatório de 182 páginas e na emissão de nada menos do que 25 comunicações ao prefeito Paulo Fernando Dias e seus colaboradores para esclarecimentos sobre contratos com Oscips e empresas postas sob suspeita, após verificação de documentos de prestação de contas do último semestre de 2007. As obras citadas no alto do primeiro parágrafo estão entre os itens resultantes de contratos sob suspeita, firmados pela prefeitura com construtoras, em processos de licitação nos quais não se comprovou a regularidade. Duas Oscips ­ Organização Nacional de Estudos e Projetos, a Onep, e Associação Brasileira de Desenvolvimento Humano (ADBIH) ­ aparecem no relatório como suspeitas de mediar a contratação de mão-de-obra para a prefeitura. A ADBIH acabou envolvida nas investigações do Ministério Público Estadual sobre a máfia do Uniforme Fantasma e não presta mais serviços a Aperibé, por decisão legal. Segundo a prefeitura, o município optou então pela contratação direta de seus funcionários. O contrato da Onep era de R$ 3 milhões, para atuação nas mais diversas áreas, da saúde à limpeza urbana, por meio da contratação de pessoal. Nunca houve, segundo o TCE, a comprovação da efetiva prestação dos serviços contratados. Com a ABIDH, o contrato firmado foi de R$ 2,2 milhões. Há indícios de que um mesmo grupo estaria por trás da atuação dessas entidades, que prestaram serviços também em Magé. O prefeito Paulo Fernando Dias, o Foguetinho (PSL) chegou a ser afastado do cargo, envolvido na máfia do Uniforme Fantasma, que envolveu Magé, Santo Antônio de Pádua, Japeri, Paraíba do Sul, Rio Bonito e Angra dos Reis em investigação de desvio de verbas públicas. Voltou ao cargo após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar a atividade política de nomes investigados por crimes em processos em tramitação. Acusado de improbidade e de enriquecimento ilícito, Foguetinho, após o retorno ao posto de prefeito, colhe os louros por obras em série. ­ Morava de favor e trabalhava como doméstica no Rio ­ não precisei mais voltar a esse trabalho desde que fui sorteada para ganhar, com escritura, a minha casinha ­ conta Tânia de Souza, de 39 anos, feliz moradora de um das 17 casas do novíssimo Condomínio Bela Vista, em Fagundes, Aperibé, suspeito de ter sido construído em um dos contratos investigados pelo TCE.