Título: Pior desempenho no Brasil fica com sistema financeiro
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2008, Tema do Dia, p. A2

SÃO PAULO

"É na análise dos detalhes que encontramos as verdadeiras preciosidades do primeiro relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Financeiro do World Economic Forum (WEF)", afirma o gerente de projeto do estudo, James Bilodeau. Em entrevista por telefone, de Nova York, ele explicou que o índice ¿ divulgado oficialmente ontem ¿ foi feito com base em uma rigorosa análise dos sistemas financeiros e mercados de capitais em 52 países, a partir de entrevistas.

Na classificação geral, o Brasil ficou em 40º lugar e as primeiras posições foram ocupadas pelos Estados Unidos e Reino Unido. No último lugar, a Venezuela.

É aí que entra a análise do detalhe: mesmo em 40º lugar, devido à fraca pontuação registrada em função do sistema jurídico e regulatório e do ambiente político, Bilodeau chama atenção para o alto conceito obtido pelo Brasil no quesito referente às instituições financeiras não-bancárias ¿ 21º lugar ¿ devido ao grande número de ofertas públicas iniciais efetivadas pelo país.

Ganhar da China é perder

O pior desempenho do Brasil foi para o sistema financeiro, quanto à posição dos bancos do país, que amargaram a última colocação no ranking. No entanto, o resultado é questionado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

¿ O sistema bancário do Brasil é sólido, o item institucional que é inadequado. O mau desempenho do país não é por causa dos bancos, mas sim, por outros critérios, principalmente ao que se refere ao ambiente institucional, compulsório e de negócios ¿ discorda o superintendente de Economia da Febraban, Nicolas Tingans.

Baseado em 120 variáveis, que vão da eficiência do legislativo ao comportamento ético das empresas ou rigor em auditorias e padrões de contabilidade, o Brasil tem resultados melhores quando se trata da confiança na administração profissional (29º lugar) ou disposição de delegar autoridade a subordinados (29º) ou num índice referente aos direitos dos acionistas (17º).

Maus resultados aparecem quanto ao comportamento ético das empresas no relacionamento com funcionários públicos, políticos ou outras empresas (45º). Pior ainda quanto ao ônus da regulamentação do governo (alvarás, regulamentação, relatórios), quando o país fica em penúltimo lugar, à frente apenas da Venezuela. Outro ponto fraco é a proteção aos direitos autorais (42º), depois até mesmo da China (41º).

Mas nada pior que o desvio de fundos públicos (para empresas, indivíduos ou grupos, devido à corrupção): 51º e falta de confiança do público na honestidade financeira dos políticos, também 51º. E quanto à qualidade do ensino de matemática e ciências, 50º lugar.

Regionalmente, o país fica na terceira colocação entre os países da América Latina, atrás do Chile (30º) e do Panamá (32º). Entre os países do Brics, O Brasil é precedido por China (em 24º), Índia (31º) e Federação Russa (36º).

O Relatório de Desenvolvimento Financeiro, segundo o gerente de projetos do WEF, demonstra todo o potencial dos sistemas financeiros que possibilitam o crescimento econômico dos países.

O relatório foi elaborado a partir de dados provenientes de fontes públicas, além da Pesquisa de Opinião Executiva do World Economic Fórum, um estudo anual de amplo alcance realizado pelo Fórum e sua rede de instituições parceiras (principais instituições de pesquisa e organização empresariais).

Quanto à turbulência registrada nos últimos meses nos mercados financeiros, devido à crise desencadeada pelos empréstimos no setor imobiliário americano, Bilodeau afirma que o relatório do próximo ano deverá mostrar um retrato mais definido da situação na análise do sistema financeiro.