Título: Zélia: Plano Collor foi necessário
Autor: Aliski, Ayr ;Monteiro, Viviane
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2008, Economia, p. A19

Ex-ministra diz que, apesar de inflação de 80%, contribuiu para crescimento econômico

BRASÍLIA

Com uma imagem ainda vinculada ao confisco da Poupança no Plano Collor, a ex-ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello demonstrou apoio a atual política e a condução da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a atual política monetária do Banco Central.

¿ Apesar dos problemas externos, de crise econômica, o país se encontra em um momento favorável ¿ disse ela, durante a sua participação no seminário Desenvolvimento Econômico: Crescimento com Distribuição de Renda, em Brasília, ontem.

Para ela, a inflação controlada de hoje é uma conquista da sociedade brasileira que deve ser mantida para garantir um crescimento econômico consistente.

¿ A política econômica do governo tem sido conservadora e o controle da inflação é uma conquista¿ declara.

Ela destacou também que as exportações brasileiras permanecem em alta, mesmo diante da crise internacional. Para Zélia, a política econômica do governo Fernando Collor de Mello, que abriu a economia do país, contribuiu, em parte, para o crescimento do saldo superávit comercial nos últimos anos.

¿ Acho que estamos em um momento extremamente afortunado ¿ avalia a ex-ministra, ao participar do seminário em comemoração aos 200 Anos do Ministério da Fazenda, que ontem teve como tema principal os desafios econômicos enfrentados pelo ministério em sua gestão.

Ela considerou pragmática a decisão de Fernando Collor de confiscar os ativos financeiros do setor privado em março de 1990.

¿ A idéia foi um pragmatismo, não foi uma ideologia ¿ afirma Zélia Cardoso de Mello.

Críticas

Os resultados do Plano Collor foram alvos de críticas durante o seminário promovido pelo Ministério da Fazenda. E a superinflação, que chegou a casa dos 80% ao mês no início da década de 90, foi um dos principais desafios enfrentados pelos ex-ministros da Fazenda, durante depoimentos apresentados.

Em vídeo pré-gravado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou que o Plano Real foi o único construído com a preocupação de respeitar as leis do país. ¿ Tivemos muito cuidado para não quebrar a lei, porque planos anteriores quebraram a lei e deram muito prejuízo depois ¿ lembra o ex-presidente.

FHC ressaltou, entretanto, que da era Collor herdou a abertura econômica, com seus efeitos negativos e positivos para o Brasil. Apesar de o Brasil ter enfrentado experiências mal-sucedidas em situações anteriores (Plano Cruzado, em fevereiro de 1986; Plano Bresser, em junho de 1987; Plano Verão, em janeiro de 1989), as críticas pareciam voltadas ao Plano Collor.

Zélia defendeu sua gestão e afirmou que, na ocasião, o governo tomou as medidas que eram apropriadas para aquele momento. Disse, por exemplo, que a poupança foi confiscada como uma forma de controlar a inflação.

Crescimento econômico

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu as medidas adotadas por governos anteriores de controlar a inflação, ao admitir que no inicio do governo Lula a inflação já estava em patamar mais civilizada. Paralelamente, ressaltou a questão de promover o crescimento econômico sustentável. Até então ao assumir a pasta meados de 2006 o crescimento econômico ainda era chamado de "vôo da galinha", com ligeiras oscilações.

¿ E hoje vivemos o melhor momento da nossa história. O Brasil voltou a apresentar crescimento robusto ¿ avalia Mantega, a referir-se às projeções econômicas do governo Lula.