Título: BC deve manter ritmo de aperto
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Jornal do Brasil, 10/09/2008, Economia, p. A21
Inflação dá sinais claros de arrefecimento, mas BC tende a elevar em 0,75 ponto a Selic.
Há quase um consenso, entre especialistas e operadores do mercado no sentido de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central manterá a escalada de juros com mais um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que não significa, entretanto, que a medida tenha unanimidade quanto à sua necessidade e oportunidade.
Reinaldo Gonçalves, professor na Faculdade de Economia da UFRJ, por exemplo, até conta com elevação de 0,75 ponto, "como o mercado está querendo". Mas não apóia a medida :
¿ A política monetária restritiva no Brasil é um absurdo, independentemente de expectativas de inflação e da conjuntura internacional. Mas, aceitando o paradigma deles, provavelmente vão manter o aumento da Selic, usando o contexto internacional como pretexto, porque já está meio complicado usar a justificativa da inflação e de demanda aquecida.
Sociedade arca com ônus
Já Luciana Sá, do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro acha que a tendência é de o BC manter a alta de 0,75 ponto, e concorda com a medida, a partir de sua visão da conjuntura econômica do país :
¿ Apesar de ter havido redução da inflação corrente, as projeções para o ano que vem estão acima da meta de 5%. E a economia ainda mostra um crescimento forte. Este aumento só vai se dar por que a política fiscal permanece expansionista ¿ disse.
A economista entende que, se existisse um quadro em que os gastos públicos não estivessem crescendo tanto, esse ajuste de controle de inflação e de demanda não e recairia tanto sobre o setor privado.
¿ O ideal seria que se tivesse uma redução de gastos públicos, que é o contrário que estamos observando. Há muita pressão, contratações e aumento de salários, em vez de se aumentar investimento público, por exemplo, o que seria mais desejável. Então, quem pagará o preço é a sociedade, com um aumento maior do que seria desejável nos juros ¿ conclui Luciana Sá.
Excesso de velocidade
Há seis anos responsável pelo cálculo do Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas, o engenheiro Salomão Quadros não se arrisca a formular um prognóstico a respeito da decisão de hoje do Copom. Mas acha que a situação da inflação melhorou com relação à ultima reunião do comitê.
¿ Já tivemos tanto o IPCA quanto o IGP com taxas menores. Acho que todo o mundo já reviu suas expectativas. Então, em minha opinião, o BC poderia voltar a um ritmo de aumento de meio ponto percentual por mais algum tempo. Mas isto nunca se sabe. Talvez queiram até manter o ritmo de 0,75 para acabar logo com o problema, neste diapasão de aumentar juros ¿ diz Salomão Quadros.
Chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas Gomes também conta com a possibilidade de alta no ritmo de até agora, "raciocinando com a cabeça do Banco Central".
Em seu entender, isto ocorrerá (a alta de 0,75) para manter-se coerência com a ata da última reuniã do Copom. Mas não seria o mais adequado, sob seu ponto de vista, considerando-se que a tendência mundial é de redução de juros, que a atividade está mais fraca, dando sinais de desaceleração e até as vendas do comércio estão caindo.